Principais ingredientes na vida do líder espiritual

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Certa vez ouvi uma frase a respeito do ministério pastoral que jamais vou esquecer por considerá-la tão verdadeira e importante. Desconheço o autor, mas é a seguinte: “Trabalhe como se tudo dependesse de você; e ore como se tudo dependesse de Deus”.

Sem dúvida alguma, esses são os dois ingredientes principais de um ministério de sucesso: oração e trabalho; creio que nessa ordem de importância.  Porém, o que mais me impressionou na frase citada, não foram apenas a prioridade desses dois elementos, mas a conotação de intensidade que devemos colocar em ambos.

O apóstolo Paulo escrevendo ao colossenses se coloca como exemplo, e diz o mesmo em relação ao seu ministério.

“Para isso é que eu também me afadigo, esforçando- me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Colossenses 1.28).

Para quem está no ministério e de fato entende o chamado de Deus, de cooperar em estabelecer o Seu Reino na Terra, não deve haver nenhuma ilusão que essa tarefa será fácil.  Nas biografias bíblicas entendemos isso, todos os grandes homens e mulheres — patriarcas, juízes, profetas e apóstolos do Antigo e Novo Testamento — foram provados, atribulados, afligidos, perseguidos e até mortos pela causa divina.  Paulo referindo-se ao seu ministério afirma que se afadigava e o seu esforço era o máximo possível.

Quando alguém diz “sim” para servir ao Senhor, a lei do menor esforço não deve existir, embora seja tão comum vermos profissionais que não amam o que fazem e não valorizam quem os paga.   Até porque esse ministro de Deus deve amar acima de tudo o seu Senhor e a Sua obra.  Por isso, que o esforço deve ser o máximo possível, assim como foi o do apóstolo Paulo.

O termo “esforçando-me”, no original grego agonizomai, significa competir, lutar, com dificuldades e perigos, esforçar-se com zelo extremo.  O que devemos esperar no que diz respeito ao trabalho, o lado humano do ministério, deve ser de acordo com a dimensão colocada por Paulo.  Quem não tem preparo físico, emocional e espiritual para isso, faz parte do grupo dos que desistem e retrocedem no meio da caminhada.  Torna-se estressado e frustrado com a Obra, acreditando que Deus errou ou ele mesmo é uma fraude.  Entretanto, nem uma coisa nem outra.  Deus nunca erra ao chamar alguém e possivelmente a pessoa também não era uma fraude, possivelmente só não tinha uma expectativa correta para o que o esperava, portanto, não se preparou para as lutas que enfrentaria.

Foi nesse mesmo sentido que Jesus também advertiu seus discípulos sobre o que seria salvar a vida ou perdê-la por causa Dele.

“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê- la- á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16.25).

 Ninguém poderá dizer-se ignorante à intensidade de trabalho que o espera no ministério, já que a Bíblia mostra isso tão claramente e o próprio Jesus em diversas ocasiões foi claro quanto a esse assunto.

 “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10.16).

“Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mateus 10.22).

“Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33).

 Esse é um lado do ministério, como já dissemos, o humano, o do trabalho.  Mas, existe a outra face da moeda, a parte de Deus.  Por isso, como o autor da frase que citamos no início disse, devemos orar como se tudo, além do nosso esforço, dependesse de Deus, porque com certeza depende mesmo Dele.

Assim como para falar do trabalho mencionamos os patriarcas, juízes, profetas e apóstolos, que se doaram completamente por seus chamados, da mesma forma também foram totalmente dependentes do Senhor.  Tudo o que fizeram não seria feito se baseassem suas realizações às próprias capacidades e esforços.  Deus estava com eles e agia por intermédio deles. Uma parceria perfeita integrando divino e humano para o mesmo objetivo: o Reino.

Voltando para o texto de Colossenses 1.28, poderemos entender como Paulo pôde se dispor tanto a ponto de suportar todas as fadigas e esforço máximo no ministério.  Ele diz que trabalhava segundo a “eficácia” de Deus que operava “eficientemente” na sua vida.

Analisando essas duas palavras em destaque encontramos a resposta para tamanho alcance e poder no ministério desse apóstolo.  A palavra eficácia, no grego “energeia”, significa ato de trabalhar, eficiência. No NT usado apenas para poder sobre-humano, seja de Deus ou do diabo.

Aqui está a resposta na ponta da caneta do grande apóstolo.  A razão da energia que vemos na história ministerial desse homem, não era apenas uma motivação humana ou esforço físico somente.  Era muito mais, sobrenatural, vindo de Deus.

Ao contrário disso, muitos líderes que fracassam têm sido paralisados por esse sentimento de incapacidade, sendo sintomática a ausência da presença de Deus. É como diz o compositor Anderson Freire em sua canção: “Estou sentindo minhas forças indo embora…”; porém com poesia o mesmo completa: “…mas tua presença me renova nessa hora, vem Senhor, vem e me leva além…”  Somente a busca pela presença do Senhor no ministério nos dará a “energeia” para irmos adiante.

Ainda no mesmo texto, Paulo completa, dando ainda uma ênfase maior a importância da intervenção de Deus na Sua vida para que pudesse cumprir seu chamado.  Para completar a sentença, ele ressalta que a eficácia operava nele com eficiência. Essa palavra (eficiência) nos surpreende quando identificamos sua forma original. A palavra grega é “dunamis”, a mesma empregada em Atos 1.8, quando Jesus faz a promessa aos seus discípulos que seriam revestidos de “poder” ao descer sobre eles o Espírito Santo.  Todo crente tem a promessa do dunamis e não podemos realizar nada se não for por essa “energeia dunamis”, isto é, sem o poder sobrenatural do Espírito Santo.  Dunamis significa poder, força, habilidade; poder para realizar milagres.

Não há outra forma de receber esse poder se não desenvolvermos uma vida de dependência do Espírito Santo com a prática de oração.  O próprio Jesus, no seu ministério terreno, subsistindo na forma de homem, só pôde realizar tantos milagres e concretizar o propósito pelo qual foi enviado porque tinha uma intensa vida de oração.

“E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu” (Lucas 3.21).

“Naqueles dias, retirou- se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus” (Lucas 6.12).

“Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar” (Lucas 9.28)

Termino a reflexão com outra estrofe da canção Sou Humano, de Anderson Freire:

“Deus, mais uma vez segure em minha mão

Minha alma aflita pede tua atenção

Cheguei no nível mais difícil até aqui

Me ajude a concluir

 

Quando penso que estou forte, fraco eu estou

Mas quando reconheço que sem Ti eu nada sou

Alcanço os lugares impossíveis, me torno um vencedor”.