Toda religião, geralmente, busca fazer prosélitos e, uma vez convertidos, transformá-los em adoradores fidelizados de suas divindades. Não raras vezes essa busca desanda em intrigas e inquisições, quando não em conflitos e cismas seculares, em guerras renhidas e revoluções. É bem do cerne das religiões.
Todavia, há um Personagem insuperável no afã de procurar adoradores. Não, não são os pastores que são insuperáveis em procurar adoradores, não são os padres, não são os rabinos, não são os mulás, não são os gurus ou líderes religiosos de qualquer estirpe. É o próprio Deus! E Deus está procurando adoradores, não para uma religião específica, mas para si mesmo. Deus não é religioso e nem precisa de “babás” da religiosidade para lhe garantirem prosélitos e os transformarem em adoradores domesticados. Na verdade, é o próprio Deus quem procura adoradores, constantemente, entre todos os povos. Mas o faz sem distinção de classe econômica, de religião, de cor de pele, de condição social, de prestígio profissional, ou de qualquer outro distintivo humano.
Em Sua busca por adoradores, a única coisa que Deus olha é para o mais íntimo do ser da pessoa, o seu coração, o seu espírito. Ele não olha a aparência, não preza a liturgia, não se fixa no moralismo, não enxerga as mímicas da religiosidade. Ele procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Simples assim!
Numa conversa com uma mulher samaritana, ao lado do Poço de Jacó, quando questionado sobre o lugar onde seria legítimo adorar a Deus, Jesus lhe disse, em suma, que o lugar não era importante, mas sim a pessoa do adorador. Ele disse: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.23,24).
Como se vê, a afirmação de que “Deus procura adoradores” foi feita por ninguém menos que Jesus, o Verbo de Deus. Parece até contraditório que Deus faça esse tipo de busca, pois, na religiosidade humana, são os adoradores que buscam suas divindades. Mas a verdade é que a atitude divina é corroborada pela história, principalmente a do povo de Israel, que foi escolhido dentre todas as nações para guardar os oráculos da revelação divina.
Há uma razão dupla para isso. Por um lado, Deus é o Único Ser digno de adoração. Isso lhe é devido. Por outro, Ele criou o ser humano com uma sensibilidade espiritual que é parte inerente da sua natureza. E não pode fugir dela nem sequer ocultá-la, sob pena de se desumanizar, e mais que isso, brutalizar definitivamente a sua humanidade. Ser criado para um adorador nato é que torna o ser humano totalmente diferente de todos os outros animais.
A verdadeira adoração, portanto, deve ser dirigida ao único Deus e criador dos céus e da terra. A adoração dispensa lugar. Ela pode ser feita em qualquer lugar da imensidão do cosmos, ou seja, nos templos e fora deles, na vida pública e privada, pois tudo deve ser sagrado na presença de Deus.
O desafio divino para que a adoração seja feita em espírito e em verdade indica que pode haver empecilhos “aparentes” à verdadeira adoração. Se a adoração a Deus é mera formalidade, somente de paramentos ou externalizada em sofisticadas liturgias, mas se o coração do povo de Deus está longe Dele, tal adoração não será aceita. Cristo repreendeu severamente os fariseus por sua hipocrisia; eles observavam a lei de Deus por puro legalismo, enquanto seus corações estavam de fato longe de Deus (Mateus 15.7).
Outro impedimento à verdadeira adoração é um modo de vida comprometido com o mundanismo, o pecado e a imoralidade. O adorador só pode ter certeza que Deus estará presente à sua adoração e a aceitará, quando tiver mãos limpas e coração puro (Salmo 24.3,4).
Como o povo brasileiro tem uma especial sensibilidade espiritual, na sua busca pelo divino chega a criar ídolos e a estabelecer deuses, além de adorar a santos e a venerar imagens de escultura. Do mesmo modo que o povo de Israel procedeu. Mas será que isso agrada a Deus? E se Deus procura adoradores (e só Ele é digno de adoração), será que está satisfeito com uma adoração formal e vazia ou que coloquemos no lugar que lhe é devido imagens feitas pelas mãos dos homens?
Deus é santo e demanda nossa reverência e respeito. Jamais devemos nos aproximar com desrespeito. Nosso Pai celestial não é o “cara lá de cima”. Ele é Deus, aquele que está “assentado sobre um alto e sublime trono” (Isaías 6.1). Como único e verdadeiro Deus, Ele é digno de nossa maior adoração e louvor. Mas não somente isso. Ele é digno deles. Ele merece a nossa adoração em espírito e em verdade. É o próprio Deus quem afere se a adoração tem esse princípio essencial.
A nossa adoração pode transformar-se rapidamente em um ritual vazio. Isso ocorre todas as vezes que endurecemos o nosso coração e não obedecemos a Sua Palavra.
Voltemos, pois, à Palavra de Deus. Retornemos ao Deus verdadeiro. Só assim poderemos responder: “Eis-me aqui. Faz de mim um verdadeiro adorador!”