Todo mundo já ouviu dizer, e tem por certo, que “as aparências enganam”. Não só enganam, mas, além de não terem o poder de efetivarem bem algum, porque são só isso: aparências, miragens, simulações, elas geralmente causam mais danos que a própria realidade. Principalmente quando são a “aparência do mal” (o combustível perfeito para fofoqueiros e maledicentes), ou quando fingem algum bem que não tem base (oportunidade perfeita para os espertalhões enganarem os incautos e desprevenidos).
O experiente General Josué experimentou uma situação em que foi traído pelas aparências. Ele era o líder do povo de Israel na campanha de conquista de Canaã, a Terra Prometida, tendo acabado de obter retumbantes vitórias, em haver destruído as cidades fortificadas de Jericó e Ai com grande demonstração de poder. Os gibeonitas estavam com medo, pois sabiam que seriam os próximos, e usaram de astúcia para salvar suas vidas.
Eles foram ter com Josué fingindo-se embaixadores de uma terra distante. Como prova, mostraram sacos velhos sobre os seus jumentos, velhos odres de vinho, sandálias e roupas velhas e remendadas, assim como o pão seco e bolorento que traziam. (Leia a história: Josué 9.1-15.) Eles intentavam firmar uma aliança para não serem destruídos com os outros povos circunvizinhos. Josué ficou tocado pelas “aparências”. Então, com a razão subvertida pela simulação de um povo sofrido, nem sequer pensaram em consultar ao Senhor que os liderara a cada vitória. Assim, eles fizeram um pacto com os inimigos de Israel, cuja iniquidade histórica Deus havia mandado punir severamente com sua erradicação.
Quando eles descobriram o estratagema dos gibeonitas, já era tarde. Eles não poderiam quebrar a aliança, pois eram o povo de Deus, cuja palavra empenhada levavam a sério. Tarde demais? Que lições espirituais podemos tirar desse incidente que, posteriormente, custou caro aos israelitas?
A primeira lição que aprendemos é que, se colocarmos o raciocínio humano antes da orientação divina, andando confiados no que vemos, em vez de andar por fé, certamente erraremos!
O apóstolo Paulo esclarece que a Igreja do Senhor Jesus Cristo está envolvida numa guerra espiritual: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6.12). Em outras palavras: a nossa guerra não é contra coisas visíveis, portanto, não devemos julgar pela mera aparência (o pão bolorento), e sim pelo discernimento do que veem os olhos espirituais. Nossa guerra é de natureza espiritual, contra espíritos enganadores que gerenciam a maldade em todas as suas expressões.
O apóstolo Pedro adverte que devemos ser sóbrios e vigilantes, pois “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pedro 5.8). Essa é uma maneira de feroz simulação de Satanás se apresentar, quando sua intenção é intimidar e tirar vantagem disso.
O Diabo apenas ruge “como leão”. Ele parece leão, mas não é, embora seja sempre perigoso. O Leão verdadeiro está conosco, é o Leão de Judá, o Senhor Jesus Cristo. Não devemos temer o inimigo, pois “maior é aquele que está em nós do que aquele que está no mundo” (I João 4.4). Por isso é que devemos temer muito mais as aparências do “pão bolorento”, ou seja, os truques de Satanás, do que sua pantomima de “rugir de leão” para simular ataques frontais.
A segunda lição é que vitórias espirituais anteriores não são “zonas de conforto”, que nos deixam desatentos das ciladas do inimigo de nossas almas. As nossas vitórias são um sinal claro de que devemos continuar dependendo da orientação e da presença constante do Senhor em nossa vida. Vitórias não são vetores de autoconfiança, de que podemos alguma coisa sozinhos; antes, são sinais de dependência; e tampouco representam alguma garantia de que venceremos batalhas futuras. É preciso confiar sempre no Senhor.
Mesmo tendo sido vitoriosos nos assaltos mais óbvios do inimigo, como em Jericó e Ai, a autoconfiança exagerada fez o povo de Israel cair facilmente na armadilha da aparência. Assim pode acontecer conosco, se não vigiarmos com sobriedade e deixarmos de depender do Senhor com humildade.
Lembremo-nos de que foi exatamente numa “zona de conforto” que Satanás encontrou as condições propícias para tentar Davi e induzi-lo a pecar com Bate-Seba. E isso desencadeou um terrível juízo de Deus sobre sua vida e família. (Leia II Samuel 11.)
A terceira lição indica de onde devemos tirar a autoridade de nossa orientação. Josué e os líderes deviam ter consultado ao Senhor, mas não o fizeram. Eles tinham de depender da orientação de Deus, pois, se eram governados pela autoridade da Palavra, se dependiam totalmente da orientação e do poder do Senhor, tão somente deviam ter feito o “dever de casa”, consultando ao Senhor. Dificilmente seriam pegos na teia dos engodos de Satanás.
Na vida, há uma variedade enorme de “pães bolorentos”, daquelas coisas que parecem representar realidades aceitáveis, mas que, na verdade, são apenas armadilhas de Satanás.
São muitos os casos de pessoas que se tornam presas fáceis por causa dos bolorentos valores mundanos adquiridos em filmes e novelas. Cresce o número de casais que se separam porque um dos cônjuges se enredou em relacionamentos pecaminosos nos porões bolorentos da internet. Muitos jovens e adolescentes têm sido seduzidos pelos apelos do satanismo, disfarçado que vem do bolor de bruxos bonzinhos ou de vampiros românticos.
John Wesley escreveu: “Não deixe nenhum lugar desprotegido, nenhuma fraqueza na alma, tome cada virtude, cada graça, e com elas fortaleça o todo”. É assim que discernimos e evitamos as aparências dos “pães bolorentos” das artimanhas do inimigo e consolidamos a nossa vitória.