É melhor serem dois do que um – Parte 1

0
473
title=

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.9-12)

O rei Salomão, instrumento divino para nos trazer estas palavras, não estava falando especificamente sobre o casamento; ele falava sobre um exemplo de unidade que cabe num relacionamento de amigos, de parceiros de trabalho e ainda outros. E embora estas palavras não se apliquem exclusivamente ao matrimônio, este princípio bíblico também não exclui, em hipótese alguma, a relação conjugal. E é dentro deste contexto, da vida do casal, que queremos buscar entender não apenas o texto em si, mas como estas verdades se relacionam com outras declarações bíblicas acerca do casamento. O escritor de Eclesiastes menciona quatro áreas onde o companheirismo faz toda a diferença e justifica a afirmação de que é melhor serem dois do que um. São elas:

1) Parceria – 2) Suporte – 3) Cuidado – 4) Proteção

Sem estas quatro expressões de companheirismo talvez fosse melhor declarar que é melhor ser um do que dois, uma vez que os “benefícios” que justificam esta afirmação deixaram de estar presentes. Queremos refletir um pouco sobre cada um deles.

PARCERIA

O primeiro benefício mencionado na declaração bíblica de que é melhor serem dois do que um é que os dois terão “melhor paga do trabalho”. Isto fala de duas coisas: da parceria nas conquistas e de sinergia, que é o resultado desta parceria.

Primeiramente queremos analisar a visão de parceria e como isto se encaixa na união matrimonial. A mulher foi criada por Deus para ser uma auxiliadora idônea, capaz (Gn 2.18). Isto significa que o homem não foi criado por Deus para conquistar sozinho e, somente depois, partilhar o “despojo” com sua esposa. Mesmo tendo a responsabilidade de provedor, o homem precisa viver a relação de parceria em cada conquista no casamento. Deus reconheceu que o homem precisaria de ajuda e, ao criar a mulher a fez com toda capacidade de prover ajuda!

Isto fala não só das conquistas materiais e geração de renda. Embora a palavra hebraica traduzida como “paga do trabalho” seja “sakar” – que significa “soldo, salário, pagamento” – ela também tem o significado de “recompensa”. O casamento é uma parceria contínua! Desde a procriação, cuidado, provisão e educação dos filhos até os ganhos materiais e financeiros o casal deve caminhar em parceria. Mesmo sendo o cabeça do lar e tendo a responsabilidade final nas decisões, o esposo deve ouvir os conselhos de sua esposa e incluí-la em seus projetos.

Se cada um quiser viver por si, como se fossem dois solteiros dividindo a mesma cama e o mesmo teto, não poderão dizer que é melhor serem dois do que um. A beleza da parceria, além do companheirismo e cumplicidade nas conquistas, pode também ser vista nos resultados. Melhor paga do trabalho não significa um salário que é dobrado para depois ser repartido entre os dois; isto não faria a menor diferença! Se cada um sozinho ganha quatro mil reais e pode ficar com tudo para si, qual é a vantagem de juntarem suas rendas que, totalizadas, chegam a oito mil reais e depois dividi-la em dois voltando ao resultado inicial? A verdade é que, juntos, mesmo repartindo, o casal conquista mais! Por exemplo, se cada um sozinho produz uma renda de quatro mil reais, mas juntos conseguem produzir doze mil reais (em vez de só os oito mil reais que conseguem sozinhos), então temos uma sinergia. Em vez de somar resultados, a parceria os multiplica! Isto é sinergia e vemos este princípio na Bíblia:

 “Como poderia um só perseguir mil, e dois fazerem fugir dez mil, se a sua Rocha lhos não vendera, e o Senhor lhos não entregara?” (Deuteronômio 32.30)

 “Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós. Cinco de vós perseguirão a cem, e cem dentre vós perseguirão a dez mil; e os vossos inimigos cairão à espada diante de vós. Para vós outros olharei, e vos farei fecundos, e vos multiplicarei, e confirmarei a minha aliança convosco.” (Levítico 26.7-9)

Falando das batalhas que o povo de Israel iria travar ao entrar na terra Prometida, Moisés, da parte de Deus, fala aos hebreus que um deles perseguiria mil, mas dois juntos não somariam os resultados para dois mil, mas o multiplicariam para dez mil! Também afirma que cinco perseguiriam a cem (o equivalente a vinte pessoas por perseguidor), mas cem perseguiriam a dez mil (o equivalente a cem pessoas por perseguidor). Isto é sinergia. Tanto em um exemplo como no outro vemos que neste tipo de parceria os resultados não se somam, se multiplicam. Podemos trazer este princípio para o planejamento familiar, para a criação dos filhos, para o trabalho e conquistas materiais e, não só para a dimensão natural, mas também para a espiritual: a vida de oração do casal.

Tenho aprendido a incluir a participação de minha esposa em tudo que faço. Desde o planejamento financeiro e decisões que precisam ser tomadas nesta área até as questões do ministério; a Kelly participa na forma como prego e ensino (antes, na preparação, e depois, na avaliação), como conduzo as reuniões ministeriais e a vida da Igreja, em minhas viagens (mesmo quando não pode me acompanhar faz a retaguarda de oração)… Sou muito grato a Deus por me permitir viver em parceria com minha esposa!

Porém, se os cônjuges decidem viver cada um por si, sem a dimensão de parceria proposta nas Escrituras, não poderá se dizer que é melhor serem dois do que um… Reveja estes valores em seu casamento. Não deixe de buscar viver esta poderosa parceria. O casamento não é apenas duas pessoas que decidiram viver juntas, é o ato de construírem juntos uma vida!

SUPORTE

Outra característica importante do companheirismo e que valida a afirmação de que é melhor serem dois do que um, é o suporte. A Escritura Sagrada declara que “se caírem, um levanta o companheiro”. Nos momentos de altos e baixos que enfrentamos, o que está melhor ajuda o outro. Encorajamento, apoio, suporte, são essenciais a união matrimonial.

Muitas pessoas entram com a motivação e expectativa errada no matrimônio; elas entram na aliança matrimonial pensando muito mais em receber do que em oferecer algo. Esperam que o cônjuge, ou mesmo a própria relação, façam-nas felizes. Porém, o fato é que não nos casamos com o único propósito de sermos felizes, mas primeiramente, para fazermos o cônjuge feliz (Dt 24.5). A Palavra de Deus nos ensina que o homem casado deve agradar a sua esposa e vice-versa (1 Co 7.33,34).

É correto esperar receber suporte do seu cônjuge, mas antes de esperar receber (ou mesmo cobrar esta atitude), devemos oferecer suporte! Estamos falando dos padrões de Deus para o casamento e não do matrimônio segundo o mundo. Portanto, espera-se dos cônjuges cristãos um comportamento que demonstre maturidade cristã. E esta maturidade nos faz compreender que dar é mais importante do que receber (At 20.35).

Em sua carta aos coríntios, Paulo declara que “o amor não busca os seus próprios interesses” (1 Co 13.5). Escrevendo aos filipenses, o apóstolo também ensina o crente a não olhar só para si, mas para os outros, e afirma o seguinte:

 “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” (Filipenses 2.4)

O Senhor Jesus também nos ensinou (não só com palavras, mas principalmente por seu exemplo) acerca da virtude de servir em vez de apenas buscar ser servido:

 “Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10.42-45)

A maioria das queixas dos casados contra o próprio cônjuge são cobranças do que o outro deveria ter feito. Infelizmente, somos egoístas demais e focados no próprio umbigo! Contudo, quando em vez de somente querer ser servidos, colocamos nossos cônjuges à frente e passamos primeiro a servir, alimentamos um outro ciclo onde nossos cônjuges, em vez de também apenas cobrarem, passarão a também nos servir com alegria. Não é fácil colocar o outro à frente de seus sonhos, projetos e vontades!

Lembro-me que na ocasião em que o Israel – nosso primeiro filho – nasceu, a Kelly entrou numa crise enorme. Estávamos casados há dois anos e meio nesta ocasião, mas a Kelly havia saído de casa e mudado para a nossa cidade cerca de um ano antes do casamento; portanto já estava há pelo menos três anos e meio morando longe dos pais. A distância de quase setecentos quilômetros entre nossa casa e a casa dos meus sogros, somada à uma certa limitação financeira dos primeiros anos de casado, não nos permitia vê-los com tanta frequência como gostaríamos, mas mesmo assim a Kelly nunca deixou de me apoiar e de sustentar a mesma declaração que Rute fez à sua sogra Noemi:

 “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.” (Rute 1.16)

De repente, após o nascimento do Israel, minha esposa começou a demonstrar sinais de tristeza por estar tão longe do restante da família (dela e minha, pois meus pais moravam numa cidade próxima à dos pais dela). Ela dizia que havia se dedicado em me apoiar e acompanhar e que nunca havia se arrependido disto, mas que partia o coração dela saber que o nosso filho iria crescer longe dos avós e do restante da família. Conversamos e oramos acerca disso várias vezes e a situação parecia somente se agravar.

Um dia, tive uma conversa séria com ela; disse que percebia que ela não estava conseguindo superar aquilo, embora continuasse se esforçando muito para me apoiar. Expliquei que, embora ela não reclamasse nem pedisse para nos mudarmos, era evidente que, naquele momento, seu coração não estava mais ali na cidade. Então declarei a ela que, em função do que ela estava enfrentando, eu estava disposto a deixar o pastorado daquela igreja para nos mudarmos para mais perto da cidade dos nossos pais, uma vez que, depois de Deus, a família é nossa maior prioridade. A Kelly se alarmou com minha sugestão e disse que não queria atrapalhar meu ministério. Retruquei que eu poderia exercer o ministério onde quer que estivesse, que já tínhamos uma boa equipe ministerial naquela igreja, e que não havia me mudado para lá afim de ficar ali para sempre. Mesmo assim, ela preferiu orar mais e buscar ao Senhor antes de qualquer decisão precipitada e, acabou entendendo da parte de Deus que não era a hora de nos mudarmos e que o Senhor traria graça e ela venceria aquela crise, como de fato aconteceu.

Mesmo não tendo nos mudado, naquele dia a Kelly percebeu que meu compromisso com ela era bem maior do que ela imaginava. Foi algo parecido com o sacrifício que Deus pediu a Abraão; ainda que ele não tenha chegado ao ponto de imolar Isaque, soube-se que ele teria ido até o fim. Esta foi a minha primeira experiência no casamento onde realmente enxergamos a importância de oferecer suporte um ao outro. Eu faria qualquer coisa para apoiar minha esposa e vê-la feliz; ela, por sua vez, lutava com sua crise não querendo me tirar do propósito divino e achando que, mesmo em meio à lutas e dificuldades, deveria estar ao meu lado a qualquer preço.

Penso que se tivéssemos agido de forma egoísta, com ela lutando para estar perto dos pais e eu lutando pelo meu ministério, nossa relação, em vez de consolidada como foi, teria sofrido um sério desgaste. Oferecer suporte ao cônjuge é algo de um valor imensurável. Se trouxermos este padrão de conduta cristã ao nosso casamento tudo será diferente! Porém, se os cônjuges decidem apenas esperar (ou mesmo cobrar) por suporte da parte do outro, então não poderá se dizer que é melhor serem dois do que um.

Reveja estes valores em seu casamento. Nunca deixe de ser um instrumento divino de apoio e fortalecimento, de consolo e amparo ao seu cônjuge!

Texto extraído do livro “O Propósito da Família”

Luciano Subirá é o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Compreendendo a atitude do perdão

Fonte