Compromisso: amar a Deus e ao próximo – as regras de um povo santo

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Compromisso: amar a Deus e ao próximo – as regras de um povo santo

SÉRIE ÊXODO  |  Estudo 7

Parte 2 | Do topo do monte ao tabernáculo – o Deus que desce do monte para habitar com o seu povo

Texto básico: Êxodo 19—24

Textos de apoio
– 1 Pedro 1.1-25
– 1 Pedro 2.1-25
– Isaías 1.1-17
– Salmos 19.1-14
– Mateus 5—7
– Romanos 8.1-39

Introdução

Entramos aqui na segunda parte principal do livro de Êxodo. Os israelitas foram libertos da escravidão, “o Senhor salvou Israel das mãos dos egípcios” (14.30). Eles atravessaram o mar, e depois de três meses chegaram ao Sinai. Poderia ser um final feliz. No entanto, a história não termina aí. O objetivo principal da saída não foi somente a libertação da escravidão, mas, sobretudo, para que o povo se tornasse o povo de Deus, e Deus o seu Deus (Êx 6.7). Os próximos capítulos vão instruir como um povo liberto irá servir o seu Deus. Os capítulos 19 a 24 contêm os Dez Mandamentos, diversas leis e a cerimônia da aliança do Sinai, ou aliança mosaica.

Essa seção está demarcada pela descrição da fala de Deus a Moisés no monte e por manifestações extraordinárias de trovões, relâmpagos, nuvem como sinais da presença ou glória de Deus, tanto no capítulo 19 quanto no capítulo 24. Entre esses dois capítulos há os Dez Mandamentos (20.1-21) e outras leis ou detalhamento dos Dez Mandamentos (20.22—23.33). Mas qual é a importância dessas leis para a história da libertação do povo?

Convencionou-se classificar as leis do Antigo Testamento como leis rituais ou cerimoniais, leis humanitárias ou civis, e leis morais. As leis cerimoniais dizem respeito às exigências e modo correto de prestar culto a Deus, ou seja, todas aquelas instruções a respeito de sacrifícios, festas sagradas e os rituais. Essas leis apontam para a obra de Cristo e uma vez que Cristo cumpre as suas exigências, conclui-se que elas foram abolidas para o cristão. As leis humanitárias ou civis são destinadas ao contexto específico dos israelitas naquela época, por isso, não são aplicáveis para o contexto moderno. E as leis morais, resumidas nos Dez Mandamentos, são as leis absolutas e universais válidas para todas as épocas em todos os lugares.

Pensando assim, a única coisa que nos interessaria nesses capítulos seria os Dez Mandamentos. Porém, quando lemos todo o corpus legal do Pentateuco verificamos que não há uma distinção clara e formal dessas categorias de leis, tampouco elas estão rigorosamente separadas em seções distintas. Pelo contrário, elas estão mescladas em um conjunto que visam instruir como um povo liberto pela obra graciosa de Deus irá viver como povo santo, um reino de sacerdotes (19.5,6). O que isso nos mostra é que não é possível separar a vida religiosa (ritual, cerimonial) da atenção às questões sociais (civis) e morais. Isso ficará muito claro nesses capítulos, pois todo esse conjunto de leis fazem parte da aliança que Deus faz com o seu povo e elas estão justapostas sem clara categorização, pois todas fazem parte da aliança, ou “Livro da Aliança” (24.7), por meio da qual Deus sela sua promessa com os israelitas.

Entretanto, uma distinção pertinente quanto à forma das leis as classifica como apodíticas e casuístas. As leis apodíticas são geralmente enunciadas como ordens absolutas e universais (p.ex., não matarás). As casuísticas são as leis que presumem circunstâncias específicas (p.ex., “quem ferir um homem e o matar terá que ser executado. Todavia, se não o fez intencionalmente…”, 21.12). Vemos nesses capítulos que os Dez Mandamentos são em sua totalidade leis apodíticas. Mas há diversas leis casuísticas que refletem os princípios absolutos e universais dos Dez Mandamentos para circunstâncias específicas. Assim, o mandamento “não matarás” é absoluto, porém, a casuística mostrará como será aplicado esse mandamento (21.12-15). Hoje talvez chamaríamos isso de leis complementares ou de regulamentação da lei. Se lermos com atenção as leis contidas nos capítulos 21 a 23, verificaremos que elas aplicam a casos específicos algum dos mandamentos absolutos. Precisamos ter isso em mente ao lermos essas leis e nos perguntar, que mandamento essa lei está aplicando?

Para entender o que a Bíblia fala

1) O capítulo 19 contém a preparação para a revelação de Deus no Sinai. Cumpre o sinal dado por Deus a Moisés no 3.12 de que ele e o povo voltariam naquele monte para adorá-lo. Observe que o povo é convocado para se preparar para o “terceiro dia” (19.11, 15, 16). Já vimos o tema do terceiro dia na narrativa de Êxodo. No terceiro dia cronológico da saída do Egito o povo murmurou contra Deus (15.22, 24) em vez de o cultuar (5.1, 3). Aqui é como se Deus por sua graça estivesse convocando-os mais uma vez para se preparem para o terceiro dia. E como podemos associar esse terceiro dia com o terceiro dia da ressurreição de Jesus (cf. Jo 2.18-22)?

2) Um tema recorrente no capítulo 19 e 24 é o da subida de Moisés ao monte para falar com Deus e, consequente descida para falar com o povo (p.ex., 19.20-21, 24; 24.12-13). Leia esses dois capítulos e marque o número de vezes que ocorre os verbos “subir” e “descer”. O monte representa a presença de Deus. Sempre que ele desce sobre o monte, há manifestações extraordinárias. Mas esse sobe e desce de Moisés não permanecerá. Quando chegarmos ao final do livro, vamos ver que Deus desce do monte para habitar no meio do povo. O que isso nos diz a respeito do nosso Deus?

3) Identifique nos capítulos 19 e 24 quem pode subir o monte e quem não pode. Mais adiante, será construído o tabernáculo. Veremos que o tabernáculo também terá uma graduação de acesso à presença de Deus. Podemos dizer que o monte serve como um protótipo ou uma representação do que será o tabernáculo? Qual seria a finalidade disso? Compare isso com, p.ex. Hebreus 10.19-25.

4) Deus firma uma “aliança” com o povo (19.5; 24.7). Ele os libertou graciosamente (19.4) e firma uma aliança por meio da qual promete que eles serão “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (19.6). O povo responde “faremos tudo que o Senhor ordenou” (19.8; 24.3, 7). Veja como Pedro aplica isso aos forasteiros da dispersão (1Pe 2.9-10).

5) Os Dez Mandamentos são introduzidos pela frase “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão” (20.2). A expressão “eu sou o Senhor” já foi repetida várias vezes em Êxodo (p. ex., Êx 6.2-8, e em “saberão que eu sou o Senhor”). Os atos de salvação mostram que Deus é o Senhor. Ele se torna conhecido por ter liberto o povo da escravidão. Agora ele anuncia como este povo viverá.

6) É importante reforçar aqui a atenção ao contexto em que a lei é dada ao povo. A lei não é dada quando o povo ainda vivia em escravidão para que mediante o seu cumprimento eles fossem justificados perante Deus e, como recompensa, Deus os livraria. Não. A lei é dada para um povo liberto. A salvação foi obra da graça divina. Deus os tirou da terra do Egito. A lei, então, estabelece como um povo liberto irá viver e servir o seu Deus. É nesse contexto que precisamos entender a lei do Antigo Testamento.

7) Veja que os Dez Mandamentos abrangem tanto a relação humana com Deus, nos primeiros quatro mandamentos (20.1-11), quanto a relação uns com os outros, nos últimos seis mandamentos (20.12-17). O que isso nos diz sobre a prática da fé? Compare isso com a oração que Jesus ensina aos discípulos (Mt 6.9-13).

8) Liste alguns dos assuntos das leis contidas entre os capítulos 21 a 23. Você consegue associar algumas dessas leis com os Dez Mandamentos (p.ex., no 22.1, “se alguém roubar um boi…” está associado ao sétimo mandamento, “não furtarás”)? Percebe como essas leis são aplicações dos Dez Mandamentos?

9) Observe que logo depois dos Dez Mandamentos, as primeiras leis anunciadas dizem respeito ao altar (20.22-26) e a como tratar dos escravos (21.1-11). À vista do que vimos no decorrer da narrativa de Êxodo, por que será que essas leis são tão importantes?

Hora de avançar

1) Temos a tendência de desprezar as leis do Antigo Testamento, principalmente as leis que dizem respeito aos rituais e as leis civis, pois entendemos que Cristo as cumpriu em nosso lugar, além disso, a salvação é pela graça. Contudo, temos muito a aprender do princípio dessas leis, por mais que algumas sejam também ressignificadas no Novo Testamento. Mas de maneira geral vemos duas coisas importantes acontecendo aqui. Primeiro, as leis regulamentam todas as áreas da vida. Por isso, um povo liberto deve dar testemunho da graça e da justiça em todas as áreas, não só na sua espiritualidade ou religiosidade. Segundo, há um firme compromisso do povo de se submeter à aliança, “Faremos fielmente tudo que o Senhor ordenou” (24.7).

2) Olhando para os ensinos de Jesus no Novo Testamento, vemos que embora ele condenasse a obediência legalista e fria à lei, sua grande divergência com os religiosos da época não era por desejar revogar a lei, pelo contrário, ele cumpre a lei (Mt 5.17-20). Será que a grande divergência de Jesus com os religiosos fosse que eles só davam atenção aos aspectos mais ritualistas da lei em detrimento às questões mais humanas e sociais (Mt 7.15-23; 15.1-20; 25.31-46)? E sua objeção era de uma religiosidade exibicionista (Mt 6.1-21)?

Para terminar

O lugar da lei na narrativa de Êxodo está no contexto do povo que foi liberto maravilhosamente pelo poder e graça de Deus. O que isso nos ensina sobre o lugar da instrução no modo de viver diante de Deus e na sociedade?

Reflita sobre o lugar da instrução, dos ensinos bíblicos, das exortações do Antigo e Novo Testamento para a vida do cristão. Enfim, como devemos viver como cristão na sociedade?

Como nós estamos hoje como igreja? Damos mais ênfase às regras ou princípios rituais e litúrgicos em detrimento aos ensinos sobre nossas responsabilidades com o próximo?

Autor do Estudo: pr. Billy Lane

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Fonte