Você sabia que uma simples análise do contexto de uma passagem bíblica evitaria um grande número de heresias?
Sim, um grande número de erros absurdos de interpretação são originados por pessoas que despresaram o trecho anterior e posterior do texto que eles interpretaram.
Cito 2 destes disparates teológicos:
1- O estudo da Palavra de Deus é nocivo ao ponto de afastar o infeliz do Senhor.
2 – É melhor torturar alguém até a morte do que sua alma ir para o inferno.
Pois é: segundo alguns intérpretes da Bíblia, estes absurdos acima são ensinamentos do apóstolo Paulo…
O primeiro é baseado em 2 Coríntios 3.6: “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. ”
O segundo é uma interpretação dos torturadores da Inquisição católica, na Idade Média, do texto de 1 Coríntios 5.4-5: “Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor.”
Os torturadores alegavam que era melhor destruir o corpo do que a alma do condenado ir para o inferno!
No primeiro caso, segundo alguns, o apóstolo Paulo está condenando toda forma de adquirir conhecimento através da leitura de livros, do estudo da teologia, ou da própria Bíblia, pois, segundo eles, só pode ser compreendida “espiritualmente através da revelação pessoal do Espírito Santo, que não pode ser contestada”…
Examine o contexto bíblico?
Ora, uma das primeiras regras de interpretação bíblica diz que
devemos examinar o contexto.
A passagem bíblica tirada de seu contexto se torna um pretexto para ideias humanas.
Contexto de uma passagem são:
1) Contexto imediato: os textos anteriores e posteriores dessa passagem;
2) Contexto remoto: outros textos bíblicos semelhantes ou relacionados com essa passagem.
No primeiro exemplo, podemos considerar como contexto imediato os versículos que começam no capítulo 2.14 até o capítulo 3.18.
Como contexto remoto, as passagens relacionadas: Gálatas capítulos 3,4 e 5; Romanos capítulos 3 a 7; entre tantos outros que tratam do mesmo assunto: a Lei não veio para salvar, mas para condenar, pois salvação somente através da fé no sacrifício de Cristo.
Você pode me perguntar: Como eu encontro o contexto imediato e o contexto remoto da passagem?
Bem, antes de encontrar os contextos, você precisa identificar o texto, ou seja, de qual bloco de pensamento que a passagem escolhida faz parte.
Antes, é bom explicar que a atual divisão da Bíblia em capítulos e versículos, bem como a disposição dos parágrafos, não faz parte do texto original.
A divisão em capítulos foi feita por Stephen Langton em 1227.
A divisão em versículos, por Robert Stephanus em 1551.
Embora nos ajude muito para acharmos rapidamente um determinado versículo ou passagem bíblicos, esta divisão não é perfeita, errando grosseiramente muitas vezes, atrapalhando muito quem está interpretando o texto da Palavra; portanto, despreze a numeração de versículos e capítulos, bem como os parágrafos, e localize você mesmo os blocos de pensamento.
O Contexto Imediato
Para identificar um bloco de pensamento, ou seja, um parágrafo, leia a passagem que você escolheu, bem como os versículos anteriores e posteriores, até encontrar onde começa e onde termina uma linha de desenvolvimento de um pensamento.
Veja que, no exemplo acima, eu separo como um parágrafo, o texto que começa em 2.14 e vai até 3.18 de 2 Coríntios: este é o contexto imediato do versículo 6, o bloco de pensamento em que está inserido.
Este parágrafo já nos dá uma luz sobre o significado da palavra “letra” – veja que o versículo 7 já indica isso, claramente, ao aludir às tábuas da Lei entregues a Moisés, chamando-as de “ministério da morte”, e no versículo 14 ele faz referência à “antiga aliança”, ou seja, à Lei.
Portanto, somente esta leitura já nos faz entender que a expressão “a letra mata” se refere à Lei dada a Moisés.
Encontrar o contexto remoto
Esta verdade se torna mais evidente quando lemos outras passagens relacionadas, onde Paulo ensina explicitamente que a Lei não tem poder para salvar, mas serviu apenas para condenar, como os textos de Romanos e Gálatas, que citei como contexto remoto
Você deve usar as referências bíblicas, a Chave (ou Concordância) Bíblica, a Ajuda Exaustiva Thompson (que é uma Concordância Bíblica por Tópicos) e outras ferramentas semelhantes.
Então, você me pergunta: o que o Apóstolo dos Gentios está ensinando em 2 Copríntios 3.6 ?
Eu lhe respondo, tirando minhas conclusões da pesquisa acima: o que Paulo está ensinando é que ele fora capacitado por Deus para ensinar o evangelho de Jesus Cristo, que está acima da Lei de Moisés, que não serve para salvar, mas para condenar apenas, por que a salvação vem pelo sacrifício de Cristo por nós.
Jamais ele ensinaria que o estudo da Palavra de Deus seria nocivo, ou que o estudo teológico é um afastador de Deus – apesar dele não usar o nosso termo moderno “Ensino Teológico”, seus escritos formam o MAIOR TRATADO TEOLÓGICO DO NOVO TESTAMENTO, OU SEJA, DA BÍBLIA INTEIRA!
Sendo ele o maior produtor de ensinos teológicos da história, como seria contra o estudo biblico?
Quanto ao segundo exemplo de interpretação errada de 1 Coríntios 5.4-5, eu deixo para você, como exercício, usando a metodologia acima, encontrar o contexto imediato e o remoto, e assim, concluir qual o significado de “entregar o corpo para satanás a fim de que a alma seja salva”.
Prof. Paulo Grigório