Quando Deus se torna um amuleto

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A geração de Eli perdeu a presença de Deus. Lemos no Capítulo 4 de 1 Samuel que a Arca de Deus foi tomada, e foi dito: “Icabode”, que significa “Foi-se a glória de Israel!” Esta foi uma geração que perdeu a presença do Senhor. Eles decaíram tanto que chegaram ao ponto em que os sacerdotes (os filhos de Eli) se envolviam em prostituição na porta do Templo de Deus!

Esta geração de Eli é um exemplo a não ser seguido, pois pecou gravemente contra o Senhor, e por isso Ele a julgou. E qual foi o motivo pelo qual esta geração perdeu a presença de Deus? Onde ela falhou? Ela falhou ao fazer da presença do Senhor somente um amuleto! Ela não buscava ao Senhor para adorá-Lo! Quase ninguém mais ia a Siló, onde estava o Templo. As pessoas já não estavam mais interessadas em irem à Casa do Senhor e a buscarem a Sua face, ou tampouco em adorá-Lo! Contudo, na hora das dificuldades, queriam fazer da presença de Deus uma espécie de amuleto que resolveria os seus problemas! Israel saiu à batalha e encontrou a derrota diante dos filisteus (1 Sm 4.1-3)! Com medo de serem novamente derrotados, mandaram buscar a Arca de Deus e a trouxeram ao campo de batalha:

    “Mandou, pois, o povo trazer de Silo a arca do Senhor dos Exércitos, entronizado entre os querubins; os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a arca da aliança de Deus. Sucedeu que, vindo a arca da aliança do Senhor ao arraial, rompeu todo o Israel em grandes brados e ressoou a terra. Ouvindo os filisteus a voz do júbilo, disseram: Que voz de grande júbilo é esta no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial. E se atemorizaram os filisteus e disseram: Os deuses vieram ao arraial. E diziam mais: Ai de nós! que tal jamais sucedeu antes. Ai de nós! quem nos livrará das mãos destes grandiosos deuses? São os deuses que feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto.” (1 Samuel 4.4-8)

Note que até os filisteus ficaram com medo da Arca, pois eles, em sua condição de gentios pagãos, também acreditavam na força dos amuletos. Isto nos mostra que os filhos de Israel já haviam adotado esta forma mundana de pensamento!

Para essa geração dos filhos de Israel, Deus já não era mais o Criador e Sustentador de todas as coisas; já não era o Salvador do Seu povo; já não era Aquele que é digno de honra e glória! O Seu Templo estava abandonado em Siló, as pessoas já não iam à Sua presença para reverenciá-Lo e declararem o seu amor, confiança e dependência. Para essa geração, Deus havia Se tornado Alguém de quem somente se lembravam na hora da necessidade. E, mesmo na hora da necessidade, esses israelitas não buscaram a presença do Senhor. Eles apenas “mandaram buscar” a Arca, pois os que fazem de Deus um “Resolve-Tudo” nem sequer se dão ao luxo de buscá-Lo!

Na minha experiência pastoral, eu já conheci muitos que não se importam em buscarem a presença do Senhor. Quando os convidamos aos cultos nunca podem, mas basta enfrentarem alguma situação difícil e já estão ligando para saberem se podemos orar com eles (e de preferência em suas casas!). Quando os chamamos para cultuar ao Senhor e render-Lhe glória, não querem. Mas, quando os negócios vão mal, querem que oremos em seu trabalho!

A nossa geração precisa aprender a temer e a amar ao Senhor, ao invés de querer tratá-Lo como um empregado. A geração de Eli não buscou ao Senhor. Ela fez d’Ele um mero “Resolvedor de Encrencas”, e por isso perderam a Sua presença!

    “Então pelejaram os filisteus; Israel foi derrotado, e cada um fugiu para a sua tenda; foi grande a derrota, pois caíram de Israel trinta mil homens de pé. Foi tomada a arca de Deus, e mortos os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias.” (1 Samuel 4.10,11)

Eles perderam a presença do Senhor! Esta perda foi algo tão terrível que a nora de Eli sofreu mais com ela do que com a morte do seu sogro e do seu marido!

    “Estando a sua nora, a mulher de Finéias, grávida, e próximo o parto, ouvindo estas novas, de que a arca de Deus fora tomada, e de que seu sogro e seu marido morreram, encurvou-se e deu à luz; porquanto as dores lhe sobrevieram. Ao expirar disseram as mulheres que a assistiam: Não temas, pois tiveste um filho. Ela porém não respondeu e nem fez caso disso. Mas chamou ao menino Icabode, dizendo: Foi-se a glória de Israel. Isto ela disse, porque a arca de Deus fora tomada, e por causa de seu sogro e seu marido. E falou mais: Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus.” (1 Samuel 4.19-22)

Em nossos dias a Igreja está vivendo este perigo. Estamos deixando de adorar ao Senhor pelo que Ele é, e O estamos buscando somente pelo que Ele faz! Isto nos deixa parecidos com os seguidores de Satanás! O Diabo não tem seguidores pelo que ele é, pois ele nada é! As pessoas pactuam com ele e o servem em troca de algo: querem fama, fortuna, e outras coisas, e pagam com as suas próprias almas por isso! Contudo, elas não vêem na pessoa do Diabo nenhum atrativo – apenas em sua proposta! E qual é o modelo bíblico da atitude correta que vemos nos que servem a Deus? Depois que a mulher de Jó lhe pediu que ele amaldiçoasse o seu Deus e morresse (Jó 2:9), ele declarou o seguinte:

    “Ainda que Ele me mate, n’Ele esperarei”! (Jó 13.15)

É de pessoas como Jó que o Reino de Deus necessita hoje – pessoas que aprendam a buscar a Deus pelo que Ele é, e não somente pelo que Ele faz! Isto não quer dizer que não podemos buscar o que Deus faz, e sim que não devemos esquecer o que Ele é e que jamais devemos perder esta ênfase!

A GERAÇÃO DE DAVI

A geração do rei Davi distinguiu-se da geração de Eli. Quando falamos de Davi, a primeira coisa que nos vem à mente é o louvor. Diferentemente da geração que falhou, perdendo a presença do Senhor (a Arca da Aliança simbolizava a presença de Deus), Davi fez tudo para resgatá-la. Em seus dias, a Arca voltou a Israel.

Davi representa os que sabem buscar e adorar a Deus pelo que Ele é. Ele já vinha experimentando o que Deus fazia. Ele havia matado um leão e um urso, porque o Senhor estava com ele (1 Sm 17.34-37). Ele havia matado Golias, o gigante, porque o Senhor estava com ele. Ele havia vencido os seus inimigos na guerra, porque o Senhor era com ele. No entanto, ainda que experimentando tudo o que Deus podia fazer, Davi sabia que o nosso relacionamento com Deus era mais do que isso, pois o Senhor não era (e continua não sendo) um mero amuleto ao qual recorremos na hora dos problemas. Ele é o Criador de todas as coisas, o Senhor, o Deus sublime e excelente, o Pai Celestial, amoroso e cheio de benignidade. Ele é digno de honra, glória e adoração! Ele merece todo o nosso culto, reverência e devoção!

Davi foi chamado de “um homem segundo o coração de Deus”, pois ele agradou o coração de Deus com as suas atitudes. Isto não quer dizer que ele tenha sido perfeito. Ao contrário, a Bíblia nos mostra com clareza as suas falhas e erros. Ao chamá-lo de “um homem segundo o coração de Deus”, as Escrituras mostram que ele conseguiu entender o que Deus queria para aquela geração. Davi não apenas conseguiu conquistar os seus inimigos, apropriando-se da Terra Prometida (que nunca havia sido ocupada em sua totalidade), mas também introduziu o ministério de louvor e música no Tabernáculo. Ao lermos os Salmos, percebemos que Davi não tinha uma ênfase e expectativa somente no que Deus fazia, mas principalmente no que Ele era!

O rei Davi foi, antes de tudo, um adorador. Quando adoeceu o primeiro filho que Batseba lhe deu, ele buscou o que Deus podia fazer – a cura. No entanto, isto não aconteceu, pois os casal estava colhendo as consequências do seu pecado. Contudo, quando a criança morreu, Davi não se revoltou contra Deus e nem mesmo entrou em luto. A Bíblia diz que ele se lavou, mudou de vestes, e foi adorar ao Senhor no Tabernáculo. Em seguida ele encerrou o seu jejum e comeu (2 Sm 12:20). Por que ele fez isto? Muitos teriam se revoltado porque Deus não fez o que havia sido pedido. Davi, no entanto, sabia que antes de atentarmos para o que Deus faz, devemos atentar para o que Ele é. E, como Deus é justo, e não erra nunca, não havia motivos para questioná-Lo. Neste momento dificílimo da sua vida, Davi foi adorar a Deus, reconhecendo o que Ele era, e exaltando-O por isso.

Que diferença da geração de Eli, a qual considerou a presença de Deus como um mero amuleto! A forma como Davi portou-se ao trazer de volta a Arca do Senhor revela como estes princípios estavam corretos em seu coração:

    “Então avisaram a Davi, dizendo: O Senhor abençoou a casa de Obede-Edom e tudo quanto tem, por amor à arca de Deus; foi, pois, Davi, e, com alegria, fez subir a arca de Deus da casa de Obede-Edom, à cidade de Davi. Sucedeu que, quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, sacrificava ele bois e carneiros cevados. Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido duma estola sacerdotal de linho. Assim Davi, com todo Israel, fez subir a arca do Senhor, com júbilo, e ao som de trombetas. Introduziram a arca do Senhor, e puseram-na no seu lugar, na tenda que lhe armara Davi; e este trouxe holocaustos e ofertas pacíficas perante o Senhor. Tendo Davi trazido holocaustos e ofertas pacíficas, abençoou o povo em nome do Senhor dos Exércitos. E repartiu a todo o povo, e a toda a multidão de Israel, assim a homens como a mulheres, a cada um, um bolo de pão, um bom pedaço de carne e passas. Então se retirou todo o povo, cada um para sua casa.” (2 Samuel 6.12-15,17-19)

Este foi um dia de festa para todo o povo. Ofertaram ao Senhor, cantaram, dançaram e comeram, pois a presença do Senhor estava com eles! Davi conseguiu comunicar a grande parte daquele povo a importância de reverenciarmos e cultuarmos a Deus com alegria, pois o Senhor é merecedor de todo o nosso louvor. Ele violou as leis da etiqueta real, descobrindo-se diante do povo, dançando, e jubilando, e assim desagradou a Mical, sua esposa. Quando Davi chegou em casa, ela o criticou. Ela pertencia ao grupo que somente se interessa pelo que Deus faz, e não pelo que Ele é! Por isso ela não chegou a ver o que Deus podia fazer por ela: ela ficou estéril até o dia da sua morte!

    “Ao entrar a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela, e, vendo o rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor, o desprezou no seu coração. Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele, e lhe disse: Que bela figura fez o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre um vadio qualquer! Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor que me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. Ainda mais desprezível me farei, e me humilharei aos meus olhos; quanto às servas, de quem falaste, delas serei honrado. Mical, filha de Saul, não teve filhos, até o dia de sua morte.” (2 Samuel 6.16,20-23)

Davi era alguém que não buscava a Deus de um modo interesseiro, nem se preocupava somente consigo mesmo, mas sempre colocava o Senhor à frente. Todas as suas atitudes mostram que, diferentemente da geração apóstata de Eli, ele tratava o Senhor como Deus, e não como um mero amuleto!

Semelhantemente, quem aprende a forma correta de se achegar a Deus certamente será alguém marcado por aquilo que Deus faz, pois a reverência ao Senhor é o meio pelo qual provamos milagres e manifestações maiores. Já é hora de a Igreja entender que estamos nos achegando a Deus quando O adoramos, e não estamos apenas “nos preparando para recebermos a Palavra”! A música no culto é para o louvor e adoração d’Aquele que é digno! Não é um mero entretenimento! Tanto na celebração coletiva como na devoção pessoal, temos nisto uma das maiores chaves para a manifestação do poder de Deus em nossas vidas!

É hora de reaprendermos a honrarmos ao Senhor pelo que Ele é, e assim o que Ele faz será uma consequência natural em nossas vidas, pois é impossível adorarmos ao Senhor sem provarmos a Sua ação em nossas vidas! Tiago escreveu o seguinte sobre isto:

    “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros.” (Tiago 4.8a)

*Extraído do Livro “A Outra Face dos Milagres”

Luciano P. Subirá é o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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