Tanto o homem como a mulher receberam de Deus atribuições para a vida familiar – algumas iguais, algumas diferentes. Por exemplo, ao criar a mulher para ser uma ajudadora do seu marido (Gn 2.18), o Pai Celeste definiu o papel do homem como cabeça (ou governo) do lar; e é justamente por este aspecto que queremos começar abordando os deveres do marido.
Também encontramos nas Escrituras ordens claras sobre a responsabilidade do marido de amar (honrar) sua esposa (Ef 5.25) e, o que separamos como um papel ainda distinto, ser amante (físico) de sua mulher (1 Co 7.3-5). Entendemos ainda que, quando criou o homem e o estabeleceu no Éden, o Senhor deu-lhe duas distintas funções: lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15). Logo, mesmo antes de criar a mulher e estabelecer a família (que já existiam em seu propósito eterno), o Criador definiu o papel do homem como provedor e protetor de sua futura família.
Portanto, os cinco principais deveres do marido – de procurar agradar e fazer feliz sua mulher, são:
1. Ser o cabeça do lar;
2. Amar sua esposa;
3. Ser amante (sexual) de sua esposa;
4. Ser provedor;
5. Ser protetor.
O MARIDO DEVE SER O CABEÇA DO LAR
Alguns homens, erroneamente interpretam sua função de cabeça do lar como uma posição em que os outros (principalmente sua própria esposa) devem reconhecê-lo. Mas quando falamos dos deveres dos maridos, queremos enfatizar o papel que ele, o homem da casa, deve cumprir.
É lógico que parte dos deveres da esposa é reconhecer e submeter-se a esta posição do marido, mas há alguns homens que querem que outros reconheçam neles um encargo que eles mesmo nunca assumiram! A negligência de muitos esposos “empurram” suas mulheres a assumirem deveres e funções que não pertencem a elas, e no fim muitos deles ainda reclamam de alguém ter “usurpado” sua posição! Portanto, repito, o propósito deste ensino é ajudar os maridos a entenderem o que eles precisam fazer quanto à responsabilidade de governo que lhes foi dada pelo Senhor.
“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo”. (1 Coríntios 11.3)
A importância do assunto é destacada na expressão usada pelo apóstolo: “quero que saibais que”… Não podemos ignorar os princípios divinos para o funcionamento da família! E um deles é o homem como governo de seu lar:
“Porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo”. (Efésios 5.23)
É claro que assumir a função de cabeça do lar também exigirá que o marido venha a saber COMO fazer isto. Falaremos sobre esta questão depois de definir qual é o nível de autoridade que o Senhor determinou que o homem exercesse em sua própria casa.
Qual é a autoridade do marido sobre a sua esposa?
Há uma verdade bíblica que tem sido pouco compreendida por muitos casais cristãos. Trata-se da questão da autoridade do homem sobre sua própria casa, começando pela relação marido e mulher (este é o primeiro nível vivido antes – e depois – da chegada dos filhos). A Palavra de Deus nos mostra claramente que a mulher, enquanto na condição de filha, estava sob a autoridade de seu pai. Esta autoridade dava ao pai o direito de validar (ou não) o voto que sua filha fazia ao Senhor:
“Falou Moisés aos cabeças das tribos dos filhos de Israel, dizendo: Esta é a palavra que o Senhor ordenou: Quando um homem fizer voto ao Senhor ou juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará. Quando, porém, uma mulher fizer voto ao Senhor ou se obrigar a alguma abstinência, estando em casa de seu pai, na sua mocidade, e seu pai, sabendo do voto e da abstinência a que ela se obrigou, calar-se para com ela, todos os seus votos serão válidos; terá de observar toda a abstinência a que se obrigou. Mas, se o pai, no dia em que tal souber, o desaprovar, não será válido nenhum dos votos dela, nem lhe será preciso observar a abstinência a que se obrigou; o Senhor lhe perdoará, porque o pai dela a isso se opôs”. (Números 30.1-5)
Agora perceba, na continuação da instrução divina sobre a questão dos votos, no texto bíblico, que o homem, ao casar-se, assume diante de Deus exatamente a mesma autoridade que o pai tinha sobre sua filha quando esta ainda vivia, como solteira, em sua casa. Ao casar-se, o marido passava então a ter a mesma autoridade de validar (ou não) os votos de sua esposa:
“Porém, se ela se casar, ainda sob seus votos ou dito irrefletido dos seus lábios, com que a si mesma se obrigou, e seu marido, ouvindo-o, calar-se para com ela no dia em que o ouvir, serão válidos os votos dela, e lhe será preciso observar a abstinência a que se obrigou. Mas, se seu marido o desaprovar no dia em que o ouvir e anular o voto que estava sobre ela, como também o dito irrefletido dos seus lábios, com que a si mesma se obrigou, o Senhor lho perdoará. No tocante ao voto da viúva ou da divorciada, tudo com que se obrigar lhe será válido. Porém, se fez voto na casa de seu marido ou com juramento se obrigou a alguma abstinência e seu marido o soube, e se calou para com ela, e lho não desaprovou, todos os votos dela serão válidos; e lhe será preciso observar toda a abstinência a que a si mesma se obrigou. Porém, se seu marido lhos anulou no dia em que o soube, tudo quanto saiu dos lábios dela, quer dos seus votos, quer da abstinência a que a si mesma se obrigou, não será válido; seu marido lhos anulou, e o Senhor perdoará a ela. Todo voto e todo juramento com que ela se obrigou, para afligir a sua alma, seu marido pode confirmar ou anular. Porém, se seu marido, dia após dia, se calar para com ela, então, confirma todos os votos dela e tudo aquilo a que ela se obrigou, porquanto se calou para com ela no dia em que o soube. Porém, se lhos anular depois de os ter ouvido, responderá pela obrigação dela.”. (Números 30.6-15)
Num dia destes, depois de realizar uma cerimônia de casamento, minha filha Lissa, com apenas nove anos na ocasião, perguntou-me porque que, em nossa cultura, é o pai que entra com a noiva para entregá-la ao noivo. Respondi a ela que o casamento é o momento em que os filhos deixam pai e mãe para unirem-se através da aliança matrimonial e formarem sua própria família. Também aproveitei para ensinar a ela que, no momento em que o pai está entregando sua filha ao noivo, a autoridade que o pai tinha sobre sua filha está sendo transferida ao marido. Estas verdades não precisam ser ensinadas somente aos maridos (e depois do casamento); deveríamos ensinar isto aos nossos filhos desde a infância, preparando-os para o relacionamento mais importante que um dia virão a ter.
Quando as mulheres ouvem falar de submissão ao marido só depois de serem adultas, provavelmente vão reagir de forma contrária ao conceito que parece ser de domínio ou controle, quando na verdade retrata proteção. A Lissa sabe que ter um pai que é seu protetor, provedor, líder e que não abusa da autoridade que tem é uma grande bênção! E desde sua infância ela está sendo preparada para que um dia esta autoridade (abençoadora e não-abusiva) do pai seja transferida ao seu marido na ocasião do casamento.
Autoridade x Autoritarismo
A Bíblia faz uma clara distinção entre a autoridade e o autoritarismo, que podemos definir como sendo o uso errado (ou abuso) da autoridade. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, autoritário é alguém “que se firma numa autoridade forte, ditatorial; dominador, impositivo”.
Assim como Deus é o cabeça de Cristo e Cristo o cabeça do homem (1 Co 11.3), com o exercício de uma autoridade abençoadora e não dominadora ou ditatorial, assim também deve ser o exercício da autoridade do marido no lar. O Senhor Jesus ensinou-nos que os valores do Reino de Deus são diferentes dos valores deste sistema mundano e dos da nossa inclinação carnal. Ele claramente advertiu-nos a não buscar dominar aos outros e nem tampouco usarmos de autoridade para sermos servidos; pelo contrário, Ele nos ensinou a exercer uma liderança servidora:
“Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10.42-45)
Portanto, o principal papel do homem como cabeça do lar é servir sua mulher (e depois – e também – aos seus filhos). Claro que isto envolve dar direção e tomar decisões, só não envolve abuso, tirania e falta de respeito. Quando Pedro escreveu aos presbíteros, que eram os líderes responsáveis pelo governo das igrejas locais (1 Tm 5.17), mostrou como deveriam exercer a autoridade que Deus lhes confiou:
“Nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho”. (1 Pedro 5.3)
Governar não é dominar, é conduzir por meio de respeito (não de mera imposição). Alguns maridos não entendem a posição dada por Deus à mulher de ajudadora (falaremos mais sobre isso adiante) e agem como se elas não devessem dar opinião alguma sobre nada. A verdade é que o homem deve aprender a ouvir sua esposa e que, o próprio Deus, certa ocasião teve que orientar a Abraão, o pai da fé, a fazer isso:
“ Disse, porém, Deus a Abraão: Não te pareça isso mal por causa do moço e por causa da tua serva; atende a Sara em tudo o que ela te disser; porque por Isaque será chamada a tua descendência”. (Gênesis 21.12)
Se ser o cabeça do lar envolvesse tomar decisões sozinho, sem consultar a esposa, Deus jamais teria trazido esta orientação! Falaremos mais sobre isto ao falar dos deveres das esposas, que envolve ser uma ajudadora.
O governo espiritual do lar
Ser o cabeça do lar envolve conduzir não apenas as questões naturais da vida familiar, mas também (e principalmente) o governo espiritual do lar. Ao falar sobre as qualificações necessárias para quem deseja o episcopado, o apóstolo Paulo fala sobre a importância de, antes de desejar governar a casa de Deus, governar bem a própria casa:
“E que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”. (1 Timóteo 3.3,4)
Ao dar as mesmas orientações a Tito, o apóstolo deixa claro que os filhos não devem apenas ser bem educados por seus pais, mas devem ser crentes! Esta característica revela uma família que é governada espiritualmente:
“Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados”. (Tito 1.5,6)
O chefe de família deve conduzir sua casa no temor do Senhor. Isto não é missão apenas de um candidato ao ministério, mas de todo cristão! Porque o ministro deve servir de exemplo, dele é requerido o modelo que os demais cristãos devem seguir (1 Tm 4.11). Preparei um capítulo, dentro desta seção, intitulado “A Vida Espiritual da Família”, onde detalho esta questão do governo espiritual do lar. Portanto, aqui faremos apenas menção deste aspecto do dever do marido de governar, também no quesito espiritual, a sua família.
O “espírito de Jezabel”
Há um espírito (leia-se “atitude” ou “comportamento” – embora eu creia que há, de fato, um espírito maligno que instiga esta forma de agir) que tem trazido muita destruição nos matrimônios – e também nas igrejas – que quero chamar de “espírito de Jezabel”.
A razão de assim denominá-lo é porque vejo que, na carta à igreja de Tiatira, o próprio Senhor Jesus também o fez. Na carta à igreja de Pérgamo ele menciona o conselho de Balaão (Ap 2.14) e o quanto isto foi nocivo a Israel. Ao referir-se a esta mulher como Jezabel, penso que Ele não falava de seu nome literal, mas de como a sua atitude reproduzia o comportamento de uma das mais abomináveis personagens na narrativa bíblica.
“Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos”. (Apocalipse 2.20)
Jezabel, na Bíblia, é um “modelo” que não deve ser seguido – tanto na questão do governo do lar como na vida espiritual:
“Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o instigava”. (1 Reis 21.25)
O rei Acabe, do ponto de vista espiritual, foi um dos piores reis que Israel teve. Mas ninguém conseguiu ser pior do que ele em algo: “se vender para fazer o que era mau perante o Senhor”. Entendo, com esta expressão “se vender” que Acabe tinha valores que sabia que estava rompendo. Ele não estava apenas na ignorância e cegueira espiritual. Acabe se vendeu diante da pressão de Jezabel e de suas propostas. Ela, além de dominante, era manipuladora. Basta ver o ocorrido no assassinato de Nabote:
“Então Acabe veio para sua casa, desgostoso e indignado, por causa da palavra que Nabote, o jizreelita, lhe falara; pois este lhe dissera: Não te darei a herança de meus pais. Tendo-se deitado na sua cama, virou a rosto, e não quis comer. Mas, vindo a ele Jezabel, sua mulher, lhe disse: Por que está o teu espírito tão desgostoso que não queres comer? Ele lhe respondeu: Porque falei a Nabote, o jizreelita, e lhe disse: Dá-me a tua vinha por dinheiro; ou, se te apraz, te darei outra vinha em seu lugar. Ele, porém, disse: Não te darei a minha vinha. Ao que Jezabel, sua mulher, lhe disse: Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jizreelita.” (1 Reis 21.4-7)
Na verdade, há momentos em que Acabe parecia um menino mimado e Jezabel age como se fosse sua mãe. A pergunta que ela faz “Governas tu agora no reino de Israel?” significa mais ou menos o seguinte: “quem é que manda aqui? Nabote ou você?”. Mas a atitude dela de resolver a situação expressa a seguinte mensagem: “se você não é homem para resolver isto, deixa que eu faço isto por você”… E 1 Reis 21.8-14 narra como Jezabel ordena que um falso testemunho seja levantado contra Nabote para que ele seja apedrejado e, depois de morto, sua vinha fosse confiscada. Jezabel é o exemplo de uma mulher dominante, manipuladora e instigadora que controlou a vida de seu marido, levando-o para longe de Deus e de Sua Palavra.
Não se deixar manipular
Apesar de inicialmente falar de uma mulher específica, Jezabel, a abordagem bíblica sempre foi clara no sentido de que o homem tome cuidado e não se deixe manipular por mulher alguma. A mulher não precisa gritar ou tentar convencer o homem a fazer algo à força. Não creio que Eva precisou de nada disto para convencer Adão a comer do fruto proibido. As mulheres tem seu charme, suas habilidades de persuasão e influência e, várias vezes vemos exemplos disto na narrativa bíblica:
“Para que não faças aliança com os moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os deuses e lhes sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus sacrifícios e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus filhos se prostituam com seus deuses”. (Êxodo 34.15,16)
O Senhor Deus trouxe estas advertências porque sabia muito bem que isto iria acontecer. Como ocorreu várias vezes na história de Israel; o exemplo clássico se deu sob o o que é chamado de “o conselho de Balaão” (Nm 31.16):
“Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas”. (Números 25.1,2)
Podemos olhar para a vida de Sansão e perceber que, embora homem algum pudesse “dobrá-lo” à força, as mulheres faziam isto com uma simples frase de chantagem emocional: “Ah, você não me ama! Se me amasse não faria assim”… Veja o exemplo do ocorrido, primeiro com a mulher filistéia com a qual ele se casou e, depois, com Dalila:
“Ao sétimo dia, disseram à mulher de Sansão: Persuade a teu marido que nos declare o enigma, para que não queimemos a ti e a casa de teu pai. Convidastes-nos para vos apossardes do que é nosso, não é assim? A mulher de Sansão chorou diante dele e disse: Tão-somente me aborreces e não me amas; pois deste aos meus patrícios um enigma a decifrar e ainda não mo declaraste a mim. E ele lhe disse: Nem a meu pai nem a minha mãe o declarei e to declararia a ti? Ela chorava diante dele os sete dias em que celebravam as bodas; ao sétimo dia, lhe declarou, porquanto o importunava; então, ela declarou o enigma aos seus patrícios”. (Juízes 14.15-17)
“Então, ela lhe disse: Como dizes que me amas, se não está comigo o teu coração? Já três vezes zombaste de mim e ainda não me declaraste em que consiste a tua grande força. Importunando-o ela todos os dias com as suas palavras e molestando-o, apoderou-se da alma dele uma impaciência de matar. Descobriu-lhe todo o coração e lhe disse: Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus, desde o ventre de minha mãe; se vier a ser rapado, ir-se-á de mim a minha força, e me enfraquecerei e serei como qualquer outro homem”. (Juízes 16.15-17)
A frase “se você me amasse não agiria assim” teve mais força sobre Sansão do que toda força física que o Senhor pudesse ter manifestado em sua vida. O homem tem o dever primário de assumir o governo do lar sem se deixar ser manipulado. É lógico que, parte da função de ajudadora da mulher é auxiliar o marido a tomar decisões com bons conselhos. Mas toda tentativa de controle e manipulação deve ser firmemente resistida!
O HOMEM DEVE AMAR A SUA ESPOSA
O primeiro conceito que quero abordar aqui é que amar é mais do que sentir algo. É decidir doar-se! Se o amor (em especial o conjugal) fosse algo meramente espontâneo – como é o conceito de paixão que muitos possuem – não haveria a necessidade de recebermos uma ordem divina acerca de amar a esposa. Se Deus ordenou (e então somos obrigados a obedecer) amar é porque podemos fazer isto por escolha, por decisão. Gosto de uma declaração de John Stott que exprime bem isto: “O amor cristão não é vítima de nossas emoções, mas servo de nossa vontade.”
Eis o mandamento divino:
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra”. (Efésios 5.25)
Observe que o padrão estabelecido por Deus é de que o marido não apenas ame a sua esposa, mas faça isto dentro do mais alto padrão de entrega: “como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Portanto, para entender como o homem deve amar a sua esposa, é necessário refletir sobre o modo como Cristo amou a Igreja.
Em primeiro lugar, e destacando a ideia de que o amor é mais do que um sentimento involuntário, é importante lembrar em que condição Jesus amou a Sua Igreja. Nós não O amávamos; as Escrituras declaram que hoje “nós o amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Nosso amor é uma retribuição ao amor d’Ele, e não o contrário. Na verdade, a Palavra de Deus ressalta que fomos amados por Ele quando ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8-10)! Portanto, o marido não deve apenas amar a sua esposa se ela estiver demonstrando grande afeto ou paixão por ele ou somente se ela estiver sendo uma “boa esposa”. Ele decide amar e a “conquista” com seu amor!
A Bíblia diz que a fé opera pelo amor (Gl 5.6). O amor nos faz enxergar o que a pessoa ainda não é – o que ela se tornará como fruto de todo investimento de amor feito. Foi exatamente isto que Jesus fez por nós e este é o padrão que devemos repetir. Por conta deste inquestionável princípio bíblico, concordo com o que Charles Stanley disse: “Quando um homem ama sua esposa corretamente ela se torna mais do que ele sonhou e muito além do que ele merece.”
Em segundo lugar, o texto bíblico diz que Jesus “a si mesmo se entregou por ela”. O amor, portanto, é uma entrega sacrificial, uma doação de si mesmo! Este é o conceito bíblico do amor. Jean Anouilh afirmou: “O amor é, acima de tudo, a doação de si mesmo”. Porém, as Sagradas Escrituras já ensinavam esta verdade muito tempo antes…
O bem de quem amamos deve ser promovido ainda que em detrimento de nós mesmos. Isto é amor sacrificial. É dar atenção mesmo quando cansado. É abrir mão de algo importante em favor do cônjuge. É agradar ao outro, não a si mesmo.
O conceito de alguns maridos é que amar a esposa é dar-lhe presentes. Os presentes podem expressar o amor e carinho, mas amar é muito mais do que isto! Creio que foi diante deste princípio que J. Blanchard declarou: “É mais fácil dar qualquer coisa que tenhamos do que dar-nos a nós mesmos.”
O amor também tem a ver com a atitude de respeitar, de tratar bem:
“Maridos, amai a vossas mulheres, e não as trateis asperamente”. (Colossenses 3.19 – TB)
Outra versão diz o seguinte: “Marido, ame a sua esposa e não seja grosseiro com ela” (Cl 3.19 – NTLH). O apóstolo Pedro ensinou sobre a atitude de consideração e honra que o marido deve ter para com a sua esposa:
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações”. (1 Pedro 3.7)
Quando leio a afirmação de Pedro acerca da mulher como parte mais frágil, recordo-me de uma advertência clara que minha esposa Kelly me deu quando estávamos para nos casar. Ela olhou bem nos meus olhos e disse: “Pense num vaso de porcelana chinesa. Imagine um vasinho bem frágil que você nem pode apertar muito”. Quando respondi que havia visualizado o tal vaso em minha mente, ela me disse: “Este vasinho delicado sou eu. É o que você está levando para casa ao casar-se comigo!”
É desnecessário dizer que, muitas vezes ao longo destes anos de casado, faltou-me esta consideração do vaso mais frágil. Às vezes numa discussão, outras na forma errada de falar e ainda outras pela minha insensibilidade às emoções de minha esposa. Não digo que nunca errei e nem que você não vai errar em relação a isto. Mas a questão é como lidamos com isto quando erramos. Precisamos nos arrepender diante de Deus quando não amamos a esposa assim como Cristo amou a Igreja. Também precisamos nos arrepender com nossas esposas reconhecendo que falhamos e pedindo perdão a elas. E então orarmos e nos policiarmos para não viver sempre tropeçando na mesma área, pois é preciso crescer e se deixar ser transformado pela ação do Espírito Santo.
Amar a esposa é importar-se com ela (e com o que é importante para ela). Elie Wiesel afirmou que “o oposto do amor não é o ódio, e sim a indiferença”. Fico abismado com a atitude de muitos maridos com quem já conversei e aconselhei; muitos deles acham que estão amando suas esposas pelo simples fato de não as odiarem ou não se incomodarem de viver junto com elas. É um absurdo, mas infelizmente é verdade!
Precisamos crescer nesta área. E meditar na definição bíblica do amor que devemos manifestar uns pelos outros:
“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Coríntios 13.4-7 – NVI)
O HOMEM DEVE SER AMANTE DE SUA ESPOSA
Quero fazer uma distinção entre o dever do homem de amar sua mulher (o que envolve o carinho, apreço, dedicação, cuidado e valorização) e de ser amante de sua mulher (o que conota a expressão física do amor, da intimidade e vida sexual do casal). Aliás, o versículo bíblico que usamos como base deste ensino sobre os deveres tem uma aplicação dirigida à vida sexual do casal:
“O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher”. (1 Coríntios 7.3,4)
Uma verdade a ser destacada é que o prazer da esposa no ato sexual depende da decisão, sensibilidade e dedicação do marido. Diz o ditado antigo que, em matéria de prontidão sexual, o homem é como um fogão à gás (com acendedor automático e estoque ilimitado de gás) e a mulher é como um fogão à lenha. O casal australiano Alan e Bárbara Pease (autores do livro “Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor” – Editora Sextante) afirmam o hipotálamo (região neurológica ligada ao apetite sexual) do homem chega, em alguns casos, a ser dez vezes mais desenvolvido que o da mulher.
Esta diferença de facilidade ou prontidão em se desfrutar a plenitude do momento de intimidade física do casal, que é o orgasmo, é um problema antigo, que começou lá no jardim do Éden:
“E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.” (Gênesis 3.16)
Depois do pecado, da queda do homem, algumas consequências vieram em juízos liberados por Deus. Entre eles, o Senhor afirma que agora a mulher teria seu sofrimento aumentado na gravidez e na hora de dar à luz seus filhos; mas o Criador também afirmou: “seu desejo será para teu marido, e ele te governará”. De que tipo de desejo você acha que Deus está falando aqui? De acordo com a Concordância de Strong, a palavra hebraica traduzida neste versículo como “desejo”, é “t ̂eshuwqah”, que significa: “desejo, anseio, avidez (de homem por mulher; de mulher por homem; de animal selvagem para devorar)”. Não estamos falando de nenhum outro tipo de desejo, senão do sexual. Mas Deus declarou à mulher: “seu desejo será para teu marido, e ele te governará”.
De que governo está sendo falado aqui? Lembre-se que esta é uma palavra de maldição, de juízo, onde as coisas ficaram piores do que deveriam; e não podemos ignorar o fato de que o Senhor já havia criado o homem primeiro para governar e ser o cabeça do lar. Logo, esta expressão “ele te governará” (gosto da versão que diz “dominará”) não se refere ao governo do lar, mas significa que o desejo da mulher dependeria do homem para ser ou não satisfeito.
Penso que foi neste momento que esta diferença de apetite (e prontidão) sexual ficou estabelecida. Deus estava dizendo à mulher que, na questão do seu desejo sexual, a decisão dela desfrutar isto ou não dependeria da escolha, da decisão do seu marido. Ao longo da existência humana, muitos maridos (senão à maioria) negaram – às vezes até por ignorância – o prazer às suas esposas.
Os maridos devem saber trabalhar esta questão. Muitas vezes não semeiam nada durante todo o dia e depois querem a colheita antes de irem dormir. Aprendi quando ainda recém-casado que o casamento é algo parecido com um banco; para “sacar” você primeiro tem que “depositar”. Paparicar sua esposa com elogios, atenção, palavras carinhosas, gentilezas (que é a forma das mulheres de receberem amor) poderá ajudá-lo muito a conquistar a inspiração de sua esposa para um excelente momento de sexo (que é a forma do homem de receber amor). Lembre-se que antes do clímax, vem o clima!
O HOMEM DEVE SER O PROVEDOR DE SUA ESPOSA
Outro dever importante dos maridos está relacionado ao quesito provisão. O homem deve ser o provedor das necessidades da mulher (e de toda a sua casa):
“Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo”. (Efésios 5.28-30)
Ao falar de alimentar e cuidar da esposa, o apóstolo Paulo não está falando que o homem tenha que cozinhar ou dar a comida na boca de sua esposa. Fala do seu papel de trazer ao lar a provisão como uma expressão de seu cuidado por ela.
A mulher, quando ainda solteira, tinha na pessoa de seu pai, o provedor. No entanto, quando um casal contrai a aliança nupcial, estão (os dois) deixando pai e mãe para unir-se e tornarem-se uma só carne (Gn 2.24). Salvo raríssimas exceções, em situações realmente imprevistas e temporárias, nenhum casal deveria depender financeiramente dos pais. É necessário que haja autonomia!
O cordão umbilical deve ser cortado na questão material e financeira (além da questão do governo do lar). Portanto, mesmo antes de casar-se, o homem já deve ser responsável e ter condições de oferecer suprimento ao lar. Veja o que o livro dos conselhos da sabedoria – Provérbios – diz acerca disto (em duas diferentes versões):
“Cuida dos teus negócios lá fora, apronta a lavoura no campo e, depois, edifica a tua casa”. (Provérbios 24.27)
“Não construa a sua casa, nem forme o seu lar até que as suas plantações estejam prontas e você esteja certo de que pode ganhar a vida”. (Provérbios 24.27 – NTLH)
A omissão (deliberada) do cuidado natural de provisão para com a família é um pecado muito grave:
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente”. (1 Timóteo 5.8)
Quando Paulo fala de cuidado, o contexto é justamente o cuidado material. Qualquer pessoa tem obrigação de cuidado para com seus familiares, mas a posição do homem como provedor o coloca numa condição de maior responsabilidade. Isto não quer dizer que ele tenha a obrigação de atender todos os caprichos da esposa ou dos filhos, nem que tenha que ser rico, mas suprir o essencial.
Há muitas situações em que a mulher também trabalha fora e coopera com a sustento. Não creio que isto seja errado desde que o cuidado e criação dos filhos não seja comprometido (o que, infelizmente, não tem acontecido com muitos casais que trabalham fora). Também não vejo problema no fato da esposa, que também trabalha fora, ganhar mais que o marido pois, se por um lado ele tem a responsabilidade de suprir a casa, por outro lado nada o impede de ser ajudado. Errado é trocar papéis – coisa que está acontecendo cada vez mais ultimamente – e o homem ficar em casa enquanto a mulher traz o sustento. Embora eu acredite que se é correto a mulher ajudar o marido a trazer o sustento do lar, também é correto que o marido a ajude com os filhos e as tarefas da casa. Porém, um acordo de cooperação mútua não deve levar o casal a trocar suas responsabilidades e deveres.
O HOMEM DEVE SER O PROTETOR DE SUA ESPOSA
Mencionei antes que, quando Deus criou o homem e o estabeleceu no Éden, deu-lhe duas funções: lavrar e guardar o jardim.
“Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Édem para o lavrar e guardar.” (Gênesis 2.15)
Portanto, concluímos que, mesmo antes de criar a mulher e instituir a família, o Criador definiu o papel do homem como provedor do lar (quem lavra o jardim para dele extrair o sustento) e protetor de sua família (quem guarda de qualquer ameaça o jardim).
Agora vamos pensar em que tipo de proteção o Senhor tinha em mente quando deu esta ordem a Adão. Quem mais havia no jardim? Ninguém! Nem mesmo Eva ainda havia sido criada e o homem está literalmente sozinho no Éden. É evidente, portanto, que Adão deveria proteger sua esposa do ataque maligno de Satanás (chamado pelas Escrituras de a “antiga serpente” – Ap 12.9).
Quando se fala de proteção, muitos machões pensam só no aspecto físico desta responsabilidade e já se imaginam dando uma surra em quem “mexer” com sua mulher. Mas o dever do marido de proteger sua esposa (e filhos) começa pela responsabilidade de exercer devidamente seu papel de governo espiritual e estender cobertura de oração pela sua casa. Também envolve o papel de ensinar sua casa a andar na Palavra de Deus e, assim, protegê-los da influência do mundo e do pecado (Dt 6.7 e 1 Co 14.35). Além da proteção espiritual, penso que o homem ainda deva proteger sua esposa no âmbito emocional, sem excluir a proteção física. Agrada-me a idéia de ser o guarda-costas de minha esposa e estar disposto até mesmo a “levar bala por ela”.
Se temos que amar a esposa como Cristo amou a Igreja (Ef 5.25), cuidar da esposa como Cristo cuida da Igreja (Ef 5.29), então a lógica me leva a concluir que não há como ignorar o fato de que, se Jesus protege a Sua Igreja (Mt 16.18), devemos proteger nossas esposas!
Luciano P. Subirá é o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.
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