Há uma diferença entre ser amado por Deus e ter uma maneira de viver a vida cristã que seja agradável a ele. O primeiro determina o nosso valor e tem a ver tanto com o que Deus é como com o que nós somos. O segundo tem a ver com o nosso comportamento e nada a ver com Deus ou com o que nós somos.
A DIFERENÇA ENTRE SER AMADO E SER AGRADÁVEL
Deixe-me ilustrar isso com um episódio que vivi anos atrás, quando meu filho Israel tinha apenas 11 anos de idade. O menino chegou do colégio com indícios de nervosismo e, pela época da nossa conversa (era o fim do primeiro bimestre escolar), deduzi que o medo estampado no rosto dele apontava para o fato de que ele teria de entregar o boletim, que, por sua vez, teria alguma provável nota baixa. Fiquei com dó do aparente desespero do Israel e, tentando facilitar a notícia que ele teria de transmitir, adiantei o assunto:
– Em qual matéria você ficou com nota vermelha?
Ele foi logo se justificando:
– Foi em matemática, pai. É que quando eu voltei da nossa viagem houve uma prova surpresa antes que eu conseguisse repor a matéria perdida.
Permita-me definir o contexto do ocorrido. Era a primeira vez que isso acontecia com ele. A Kelly, minha esposa, além de muito boa mãe, é pedagoga e trabalhou anos como orientadora pedagógica; por conta disso, meus filhos tinham que “andar na linha” na questão das notas escolares. Além disso, eu estava me sentindo um pouco culpado porque eu tinha levado o meu filho comigo numa viagem (logo nos primeiros dias do retorno às aulas), a matéria perdida que ocasionou a dificuldade do Israel manter a média era justamente a daqueles dias da viagem. Portanto, por se tratar de um “réu primário” e eu ter minha parcela de culpa, tentei aliviar o peso que o menino sentia na entrega do boletim escolar. E dei continuidade à nossa conversa dizendo o seguinte:
– Filho, você está preocupado demais com o que eu possa pensar de você. Acho que você só está tão nervoso porque deve estar confundindo seu valor com a sua performance. Elas são duas coisas bem distintas
Então emendei:
– Guarde isso para sempre no seu coração: Nada do que você fizer de bom fará com que eu ame você mais do que eu já amo. E nada do que você fizer de errado fará com que eu o ame menos. Quanto eu te amo não tem nada a ver com o que você faz; tem a ver com quem você é. Você é meu filho, e isso basta!
De repente, uma carinha meio malandra foi surgindo em meio à expressão de alívio que se formou no rosto do menino… Quase dava para ouvir o que ele estava pensando: “Então liberou geral? Você me amará igualmente
não importa o que eu faça?”
Era quase como se ele estivesse me perguntando: “E não há motivo algum para que eu me preocupe com a minha performance nos estudos?”
Foi quando decidi entrar logo em ação e disparei:
– Ser amado não tem nada a ver com sua performance, apenas com o que você é. Mas, se você quer me agradar, ai é outra conversa!
Graças a Deus, meu filho entendeu essa verdade. Isso, por um lado, tirou dele o peso da missão inútil de tentar ser merecedor do meu amor paterno; por outro lado, o conscientizou da responsabilidade de se dedicar mais para me agradar.
Alguns anos depois do ocorrido, li o livro Extraordinário – o que você está destinado a viver, de John Bevere, e encontrei uma história semelhante sobre como ele explicou aos seus filhos a diferença entre ser amado e ser agradável. E, depois de estabelecer o mesmo paralelo que apliquei anteriormente ele afirmou: “Sei que isso pode ser uma espécie de choque para você, mas o mesmo acontece em nosso relacionamento com Deus. Não podemos fazer nada para fazer com que Deus nos ame mais do que ele já nos ama; também não podemos fazer nada que faça com que ele nos ame menos. Mas quanto prazer ele sente por nossa causa? Isso é outra história”. E acrescentou: “No últimos anos, ouvimos falar muito sobre o amor incondicional de Deus – uma discussão muito útil e necessária. Entretanto, muitas pessoas concluíram em seu subconsciente que, uma vez que Deus as ama, ele também está satisfeito com elas. Isso simplesmente não é verdade.”
Percebo dois tipos de comportamento errado na igreja e sei que eles nascem de um entendimento errado. Mas não há como tratar do efeito sem tratar da causa.
Há muitos cristãos se esforçando por “merecer” o amor do Pai celestial (mesmo colocando esse merecer entre aspas, ele ainda soa muito ridículo). Mas o amor divino não tem nada a ver com performance! Jesus, ao contar a parábola do filho pródigo, não disse que o pai estava desmotivado para amar ou perdoar o seu filho quando este regressou para casa. Não! O amor daquele pai não tinha absolutamente nada a ver com a performance do seu filhos. Muitos estão vivendo nesse extremo. Acreditam que deveriam “merecer” esse amor e nunca conseguem viver à altura do que idealizaram.
Mas há um outro tipo (ou grupo) de cristãos, que sabe que a performance não determina valor ou aceitação, a ponto de não se importar com isso. O problema é que essas pessoas não entendem que, para agradar a Deus, diferente de ser amado por ele, temos de dar o melhor de nós.
Toda e qualquer pessoa tem o mesmo valor aos olhos de Deus. Todos são amados por Deus. Mas a pergunta a ser feita é: estamos todos agradando a Deus?
O princípio de agradá-lo é bíblico!
“Finalmente, irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós recebestes, quanto à maneira porque deveis viver e AGRADAR A DEUS, e efetivamente estais fazendo, continueis progredindo cada vez mais (1Ts 4.1 – grifo do autor)
Há uma maneira de viver e agradar a Deus. Isso deve ser praticado e devemos progredir nisso. É simples assim! Observe os versículos a seguir:
Portanto, os que estão na carne não podem AGRADAR A DEUS (Rm 8.8)
De fato, sem fé é impossível AGRADAR A DEUS, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam (Hb 11.6)
Uma pessoa que está na carne é amada por Deus? Claro que sim.
E ela está agradando a Deus?
Claro que não!
Uma pessoa que não consegue andar em fé é amada por Deus?
Sim.
E ela está agradando a Deus?
Não!
Nenhum de nós pode se esquecer disso. Tanto o ser amado por Deus como o ser agradável a Deus estão relacionados com valor. Porém, um determina o nosso valor para Deus enquanto o outro determina o valor de Deus para nós. Muito mais do que apenas ser extraordinariamente amado por Deus – o que determina o nosso alto valor para ele -, nós também devemos procurar, em tudo, agradar a Deus – o que determina o alto valor dEle para nós.
A falta dessa compreensão básica tem impedido muitos de avançar a uma dimensão maior de intimidade com o Senhor. Alguns sabem que, como filhos, são tão amados pelo Pai celeste quanto os outros. O que, infelizmente, ignoram é que poderiam agradar mais ao Pai e desfrutar muito mais dEle do que já chegaram a experimentar.
Essa lei da reciprocidade define a intensidade do nosso relacionamento com Deus. Mas também define o nível de conquistas e experiências que podemos ter com Ele.
Quero demonstrar que ir mais fundo é nossa responsabilidade. Não se trata de algo que depende somente de Deus. Pelo contrário, depende de nós usarmos ou não os princípios que ele instituiu e revelou.
Texto extraído do livro “Até que nada mais importe”
Por Luciano Subirá – Responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.
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