Um reino sem muros
SÉRIE REVISTA ULTIMATO
Artigo: “Missão integral, missão do reino”, por René Padilla
Texto básico: Lucas 13. 18-21
Textos de apoio
– 1 Crônicas 29. 10-14
– Salmo 145
– Daniel 7. 13-14
– Mateus 4. 23-24
– Romanos 14. 15-18
– Hebreus 12. 26-29
Introdução
Ao ser interrogado pelos fariseus, Jesus disse que a vinda do Reino de Deus não seria “observável”, mas que ele era uma realidade já atuante entre os homens (Lc 17. 20-21). Por causa da nossa dificuldade de compreensão acerca desta “realidade não observável”, Jesus normalmente tentava explicá-la por meio de parábolas e comparações com realidades conhecidas do dia a dia dos seus ouvintes.
O nosso texto básico contém duas destas parábolas utilizadas por Jesus para explicar a natureza do Reino de Deus. Elas foram contadas por ele logo após um incidente numa sinagoga, onde uma mulher encurvada é curada e liberta num dia de sábado. O chefe da sinagoga, indignado, repreende a multidão, que por sua vez se alegrava com os milagres de Jesus. Apesar da resistência por parte de alguns, o Reino estava ali presente, e seu desenvolvimento não poderia ser contido.
É como se Jesus, após o acontecido, procurasse ensinar que por trás daqueles sinais visíveis existia uma realidade espiritual, invisível, se desenrolando. E que, uma vez iniciado este processo, nada poderia detê-lo.
Temos cultivado esta consciência da presença do Reino de Deus entre nós, ainda que os sinais exteriores sejam sutis? De que maneira uma consciência viva acerca deste Reino entre nós poderia transformar nossa percepção da realidade visível e imediata? Será que às vezes confundimos o Reino de Deus com o “reino nosso”?
Para entender o que a Bíblia fala
- Ao comparar o Reino de Deus com uma semente, que cresce, e se torna uma árvore capaz de abrigar aves em seus ramos, o que Jesus esperava ensinar sobre a natureza deste Reino (vv. 18-19)? Para ajudar, lembre-se o que esta simbologia de “aves do céu abrigando-se nos ramos de uma árvore” significava no Antigo Testamento (Ez 17.23, 31.6; Dn 4.12).
- Pensando, então, no que Jesus ensinou com esta parábola, quem pode fazer parte do Reino de Deus? Quais a implicações disso para o esforço missionário da Igreja, que é o agente do Reino neste mundo?
- Nos vv. 20-21 Jesus lança mão de outra comparação facilmente reconhecida por seus ouvintes. O que ele queria ensinar sobre o Reino de Deus desta vez? Onde o “fermento” do Reino precisa estar? Existe alguma parte da “farinha” do mundo que ficou privada do efeito da fermentação?
- Juntando agora as duas imagens usadas por Jesus, poderíamos considerar que o desenvolvimento do Reino de Deus entre nós possui uma dupla dimensão: “horizontal” (a ideia de extensão) e “vertical” (a ideia de profundidade). Pensando no seu contexto imediato (seu bairro, sua cidade), de que maneira esta dimensão dupla poderia, ou deveria, estar sendo vivenciada por sua comunidade cristã, que é a “filial” do Reino neste contexto geográfico e social?
Hora de Avançar
Jesus anunciou a boa nova: o reino de Deus se fez presente na história. Deus está cumprindo a sua promessa de restauração da sua criação, incluindo a humanidade. Para tal efeito, o seu reino se fez presente na pessoa e obra do seu Filho Jesus Cristo. A missão da Igreja é integral uma vez que tem como propósito prolongar a missão de Jesus Cristo como missão do reino ao longo da história.
(René Padilla)
Para pensar
O v. 18, no original, possui um “portanto”, que nos ajuda a perceber a relação entre o discurso de Jesus sobre o Reino de Deus, e os acontecimentos anteriores na sinagoga. Essa observação foi mantida na tradução da Bíblia de Jerusalém.
Em Mateus e Marcos, a lição da parábola do grão de mostarda frisa o contraste entre o tamanho ínfimo da semente e o grande porte da árvore que surge a partir dela. Não se deve menosprezar o começo humilde do Reino de Deus. Note que Lucas seque menciona o tamanho do grão de mostarda, mas coloca toda ênfase no resultado final – uma árvore capaz de abrigar as ave do céu. Portanto, uma ênfase na universalidade do Reino de Deus, característica bastante presente nos escritos lucanos.
Com relação à parábola do fermento, os três evangelhos sinóticos mantém a mesma lição – uma quantidade pequena de fermento faz sentir sua presença numa grande quantidade de farinha. “Assim acontece com o reino. O fermento trabalha de modo quieto e invisível, e o reino opera através da influência de Cristo sobre os corações humanos, e não em qualquer coisa meramente externa e visível” (Leon Morris, “Lucas: Introdução e Comentário”, Edições Vida Nova). O fermento também influencia todas partes da massa, o que nos levar a pensar sobre a influência que o Reino precisa ter na totalidade da vida, sem omitir nenhum parte.
O que disseram
Muito frequentemente, nossa desculpa para sermos irresponsáveis é a alegação de que somos insignificantes. As parábolas da semente de mostarda e do fermento de Jesus põem fim a isso. São os movimentos imperceptíveis e invisíveis de Cristo em nós que se tornam as florestas e os banquetes de seu reino.
Eugene Peterson, “Um Ano com Jesus”, Ultimato
Para responder
- Dizer que o Reino de Deus possui um caráter universal é absolutamente verdadeiro. Mas, ao mesmo tempo, isso pode nos levar a uma generalização sem maiores consequências pessoais e comunitárias. Por isso, reflita sobre como a natureza “inclusiva” do Reino se aplica ao seu contexto mais próximo. Como você e sua comunidade cristã podem aplicar esse ensino na realidade heterogênea (social e culturalmente falando) de seu bairro e cidade?
- O Reino é também como o fermento que “influencia” cada parte da farinha. Fazendo um paralelo com a Igreja, que é a agência do Reino no mundo, o que está metáfora ensina sobre o caráter holístico de sua missão? Como a Igreja poderá influenciar cada área da sociedade onde está inserida?
Eu e Deus
Pai, santificado seja o teu Nome;
venha o teu Reino;
o pão nosso cotidiano dá-nos a cada dia;
perdoa-nos os nossos pecados,
pois também nós perdoamos aos nossos devedores;
e não nos deixes cair em tentação.
Amém.
Autor do estudo: Reinaldo Percinotto Júnior
Este estudo bíblico foi desenvolvido a partir do artigo “Missão integral, missão do reino”, do colunista René Padilla, publicado na edição 360 da revista Ultimato.