Somos cartas lidas por todos

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“Nenhum homem é uma ilha isolada” – asseverou o poeta inglês John Donne. Ou seja, as nossas ações repercutem, fazem eco no todo do qual fazemos parte. Somos não somente responsáveis pelas escolhas que fazemos, mas também as atitudes e ações decorrentes dessas escolhas são um espetáculo para uma audiência que nos observa o tempo todo em toda a vida.

Lembro-me do caso de um juiz americano que se utilizava de um expediente inusitado para encorajar a boa conduta ao volante. Quando as pessoas eram acusadas de dirigirem embriagadas, ele dava-lhes duas opções. A primeira era colocar um adesivo com esta mensagem no para-choque do veículo: “Este carro pertence a um motorista bêbado já condenado”. A segunda opção, preferida por quase todos, era esta: os infratores deveriam inscrever-se no programa de tratamento para alcoólatras.

Indagados a respeito de sua preferência, ficou constatado que a maioria das pessoas preocupava-se com o que os outros pensariam e queria manter uma boa imagem diante da sociedade. Era o receio óbvio do constrangimento.

A lição que se tira dos exemplos acima é que todos os dias todas as pessoas ao nosso redor estão “lendo” o nosso exemplo, bom ou mau. O apóstolo Paulo, sabendo que esse expediente bem se aplicava aos seguidores de Cristo, escreveu: “Vós sois a nossa carta… conhecida e lida por todos os homens” (II Coríntios 3.2). Para ele, nós estamos sendo observados, não somente por Deus, que tudo vê, mas também pelas pessoas ao nosso redor. Está escrito que o nosso comportamento é observado por uma “grande nuvem de testemunhas” (Hebreus 12.1).

Se, sendo cristãos, não nos comportarmos como Deus espera que o façamos, nem Ele, nem a sociedade, dará alguma aprovação. Há, portanto, vários comportamentos inaceitáveis para os quais também se aplica o receio de constrangimento. Por exemplo, alguém poderia se habilitar a andar com uma placa nas costas com a seguinte mensagem: “Não confie em mim. Sou um hipócrita”. Ou: “Perigo! Sou um cristão que não gosta de oração e não lê a Bíblia”. Ou ainda: “Cuidado! O meu fraco é a fofoca”. Ou então: “Não sei perdoar. Quem me domina é a luxúria, não o amor”.

Talvez alguma dessas placas caiba bem em alguém que conheçamos. Mas qual dessas (ou outra, por melhor que fosse) caberia a cada um de nós?

Muito embora as pessoas nem sempre emitam opinião sobre o nosso comportamento, estamos sendo “lidos” por todos ao nosso redor, pois somos “cartas abertas”. Deus também está “lendo” a nossa vida. O problema é que não poucas vezes tememos muito mais a opinião pública que a de Deus.

Jesus, querendo que os discípulos de algum modo influenciassem (sempre para o bem) as pessoas ao seu redor, disse: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte” (Mateus 5.13).

O sal não pode deixar de salgar e a luz não pode deixar de brilhar. Em suma, não podemos ser omissos na vida. Mas se, de repente, todos os seguidores de Cristo assumissem outro tipo de omissão? Se todos simplesmente desaparecessem? Perceba que não estou falando do arrebatamento da Igreja, quando os cristãos fiéis serão removidos deste planeta. Mas pensemos em outro modo de “desaparecimento”, num tipo de evento sob o nosso próprio controle.

Por exemplo, se todos os cristãos se recusassem a assistir a programas televisivos nos quais a sensualidade e a imoralidade e a infidelidade aparecem mascaradas como mero entretenimento? E se nos recusássemos a assistir aos filmes (ou qualquer tipo de programação) onde os personagens usam o nome de Deus em vão, zombam de Sua Palavra e fazem pouco caso dos elevados padrões divinos éticos e morais?

Imaginem se, de repente, os cristãos sumissem dos lugares onde costumavam se divertir e, aos quais, como filhos de Deus, não mais pertencem? Pense como seria se, de súbito, todos os cristãos deixassem de fazer parte das estatísticas oficiais? E se os institutos de pesquisa não mais nos notassem, pois “sumimos”, e não mais fôssemos contados em suas estatísticas?

A pergunta que fica é: nossa “ausência” faria alguma diferença? As pessoas notariam o nosso “sumiço”? Não tenho dúvida que sim! Mas penso que este não é o cerne da questão. O que realmente importa é que continuemos a servir a Deus e a viver a normalidade da vida cristã, sendo “lidos” e observados por todos, como “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandecemos como luzeiros no mundo” (Filipenses 2.15).

Devemos manter exemplar o nosso procedimento no meio das pessoas, para que, naquilo que falam contra nós, observando-vos em nossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação (I Pedro 2.12)

Todos os seguidores de Jesus Cristo são “cartas abertas” e, portanto, “conhecida e lida por todos”. Por isso, cada um tem de decidir a mensagem que as pessoas lerão na sua própria vida, se a mesma glorificará a Deus ou será mero motivo de zombaria pelos outros.

 

 

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