As promessas para Israel

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Texto básico: Romanos 3.1-4

Leitura diária
D:
Gn 12.1-9 Promessas a Abraão
S: 2Sm 7.1-29 Promessas a Davi
T: 2Cr 7.11-22 Promessas a Salomão
Q: Ez 20.1-44 Disciplina e restauração
Q: Dt 30.1-20 Promessas de misericórdia
S: Ag 2.1-9 A glória futura do templo
S: Lc 1.67-69 Cumprimento das promessas

Introdução

A simples observação de que a Bíblia está dividida em duas partes, o Antigo e o Novo Testamentos, sugere o tema que estudaremos neste trimestre. Há muitas perguntas quanto à relação entre os dois Testamentos. Nossa atenção se concentra­rá sobre Israel e as promessas que Deus lhe fez, à luz do Novo Testamento.

Veremos as principais afirmações so­bre o propósito de Deus para Israel, que demandam um estudo sobre seu cumpri­mento no presente ou no futuro. 

I. A descendência de Abraão

O ponto inicial de nosso estudo é Ge­nesis 12.1-3, o chamamento de Abrão. A ordem do Senhor a Abrão para que deixasse sua terra é acompanhada de promessas que teriam extraordinários desdobramentos. Deus prometeu a Abrão que faria dele uma grande nação e que ele e seus descendentes se tornariam re­ferencial de bênção para todas as famílias da terra.

A. A promessa de uma grande nação

O chamado de Deus tornava Abrão o chefe de um novo clã. Em decorrência da intervenção direta do Criador, os seus descendentes formariam um povo nume­roso, abençoado e famoso. Teve início ali algo cujo propósito e final o patriarca não poderia sequer de longe imaginar!

Um importante “detalhe”, porém, pa­recia colocar em risco o cumprimento da divina promessa, pois Abrão e sua esposa não podiam ter um filho. Ocorre que esse foi um teste para que Abrão demonstrasse sua fé em Deus que o chamou, o que nem sempre o patriarca fez a contento. Ao longo de uma série de experiências com Deus, que incluíram a mudança de seu nome para Abraão, a promessa da descen­dência começou a se cumprir com o nas­cimento de Isaque, mesmo na velhice de Abraão e Sara. Foi um importante sinal de um processo que tornaria a descendência de Abraão numerosa como o pó da terra (Gn 13.16) e as estrelas do céu (Gn 15.5).

Diversos povos se originaram de Abraão, mas a plenitude da promessa estabeleceu seu foco sobre os filhos de Jacó, seu neto, nomeado Israel pelo próprio Deus (Gn 32.28). Foi com esse povo que Deus desenvolveu os capítulos seguintes da história da salvação.

Quando chegamos ao Novo Testamen­to, encontramos a afirmação de Jesus de que ele veio buscar as ovelhas perdidas de Israel (Mt 10.6; 15.24), o que indica claramente a continuidade do propósito de Deus para Israel. No entanto, o Mestre nos informa que os que eram seus não o receberam (Jo 1.11). Perguntamos então: Qual é o papel dessa nação no desdobra­mento posterior do plano da salvação? A promessa feita a Abraão ainda está de pé? De que modo? 

B. Referencial de bênção

“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3), prometera o Senhor a Abraão. A bênção dos demais homens de­penderia do modo como se relacionariam com Abraão e com a sua descendência. O trecho, repetido nas promessas feitas a Isaque e a Jacó, não deixa dúvidas de que Israel seria central na história da salvação e de que a bênção divina para o mundo in­teiro teria como canal a sua descendência.

Temos então o surgimento de um povo eleito para ser abençoado e para abençoar. Em decorrência da aliança firmada com Deus, Israel seria mediador de bênção e de maldição entre Deus e todos os povos. Desse modo, a tese de que Israel tenha sido rejeitado ou excluído do plano divino gera um problema na compreensão das promessas do Antigo Testamento porque a salvação das nações é descrita como uma decorrência da bênção sobre a descendência de Abraão e a sua maldição seria a maldição de todos.

A Carta aos Romanos ensina que a rejei­ção dos israelitas foi parcial. Paulo compro­va isso com a sua própria conversão, sendo ele um israelita (Rm 11.1). A maciça inclu­são dos gentios no povo de Deus deveria funcionar como um elemento provocador de ciúmes nos judeus (Rm 11.11), para que eles se voltem para Jesus e o reconheçam como o Messias que eles aguardam. Em seguida, porém, quando ocorrer a “ple­nitude dos gentios” (Rm 11.25), “… todo o Israel será salvo” (v. 26). Segundo RC Sproul, “Paulo está dizendo que a parcela inteira dos eleitos de Deus de Israel será salva, e que Deus virá numa nova visitação histórico-redentora pelo Espírito Santo, quando o tempo dos gentios se cumprir” (Estudos Expositivos em Romanos, p. 353, Cultura Cristã). Veremos mais a respeito do futuro da nação de Israel nas lições 11 e 12. 

II. A terra prometida

Nas palavras divinas do chamamento e comunicação da aliança, outro componente foi acrescentado ao relacionamento entre Deus e a descendência de Abraão. Ao chegar a Canaã, o Senhor afirmou que daria aquela terra à sua descendência (Gn 12.7). Quando estava na região montanhosa de Betel, Deus ordenou que Abraão olhasse em todas as direções e tudo o que estava ao alcance de sua vista seria dado à sua descendência. Como demonstração de sua confiança, Abraão deveria percorrer a terra em toda a sua extensão (Gn 13.14-17). Os limites da terra prometida foram claramen­te estabelecidos: “desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates” (Gn 15.18).

A promessa feita a Abraão foi reafirma­da em seguida, até que, tendo se tornado um povo numeroso no Egito, os filhos de Israel marcharam para a terra prometida, sob a liderança de Moisés. Naquele tem­po, a terra era descrita como “boa e am­pla, terra que mana leite e mel” (Êx 3.8). Moisés a descreveu assim: “… a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que cuida o Senhor, vosso Deus; os olhos do Senhor, vosso Deus, estão sobre ela continuamente, desde o prin­cípio até ao fim do ano” (Dt 11.11-12).

Essa não foi uma promessa incondi­cional. A posse perpétua da terra estava condicionada à fidelidade ao Senhor, por meio da guarda dos seus mandamentos e estatutos (Dt 30.16-18). De toda forma, a terra de Canaã era o sinal da aliança entre Deus e o povo de Israel.

O juramento de dar aos descendentes de Abraão a porção de terra que vai do rio do Egito até o rio Eufrates foi paulatinamen­te sendo cumprido, desde os dias de Josué até os dias de Davi e Salomão. Depois disso, essa extensão foi sendo diminuída, até que, por causa de seu pecado, os filhos de Israel foram expulsos da terra. Os que moravam no Norte foram tirados dela em 722 a.C., os que moravam no Sul, em 586 a.C. Embora tenha retornado em parte do exílio, Israel não teve mais domínio sobre a terra, exceto por um período de cerca de cem anos, no reinado dos Macabeus, e no atual estado de Israel, criado em 1948. Ainda assim esse domínio tem sido apenas parcial. Temos de refletir sobre o papel da terra de Israel no cumprimento da redenção. 

III. O reino eterno de Davi

Outro importante elemento das pro­messas de Deus no Antigo Testamento diz respeito ao governo sobre o povo de Israel. Ainda que a Lei fosse o principal modo de Deus governar sobre o seu povo, o estabelecimento da monarquia cumpriu um importante papel na revelação do pla­no divino. Após estabelecer Davi como rei, o Senhor anunciou que por meio de um descendente de Davi firmaria o seu trono para sempre (2Sm 7.12-13,16). A promessa de um reino eterno é cantada nos salmos e confirmada nos profetas.

Por meio dela, a glória de Israel se estenderia até as extremidades da terra e haveria juízo e justiça para todos. Isaías, fundamentado no zelo do Senhor, anun­ciou a chegada de um menino, que teria seu governo aumentado e promoveria paz sem fim sobre o trono de Davi, firmando-o em juízo e justiça para sempre (Is 9.6-7).

A promessa de um rei e de um reino nunca se apartou de Israel. Quando o rei­no dos filhos de Davi foi encerrado pelo exílio de Judá, essas promessas mantive­ram a esperança da vinda de um filho de Davi que restauraria o reino a Israel e o livraria de todos os seus inimigos, como descreve o cântico de Zacarias (Lc 1.68-79). Não é por acaso que um dos princi­pais temas do evangelho é a chegada do reino dos céus.

No entanto, a expectativa da restaura­ção do reino de Israel não se cumpriu no ministério de Jesus. Quando questionado acerca disso, Jesus não negou a promessa. Ele tão somente afirmou que não competia aos discípulos conhecer tempos ou épocas reservados pela exclusiva autoridade de Deus (At 1.6-7). Isso indica que ainda há algo reservado quanto ao reino de Deus. 

IV. Os olhos do Senhor sobre o templo

Davi iniciou os planos para a constru­ção de um templo em Jerusalém. Desde o monte Sinai, o Senhor resolveu sinali­zar sua presença no santuário, por meio do qual habitaria no meio do povo (Êx 25.8). Isso ocorreu com o tabernáculo e, posteriormente, com o templo. Essa tarefa coube a Salomão. Ao consagrá-lo, Salo­mão reconheceu que a glória do Senhor era muito maior do que aquele edifício e que o Deus que habita o céu dos céus não poderia morar numa casa feita por mãos humanas. Pediu então que o Senhor mantivesse os seus olhos voltados para aquele lugar e ouvisse as orações que ali fossem levantadas (1Rs 8.27-32). A resposta divina foi: “Ouvi a tua oração e a tua súplica que fizeste perante mim; santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre; os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias” (1Rs 9.3). A partir de então, aquele seria o santo monte do Senhor e “casa de oração para todos os povos” (Is 56.7).

Israel entendeu equivocadamente que essa promessa lhe garantiria segurança absoluta. Nos dias de Jeremias, o povo pensou que o templo do Senhor os prote­geria do castigo que seus pecados mere­ciam (Jr 7.4), mas o templo foi destruído por Nabucodonosor e seus utensílios foram levados para a Babilônia (2Cr 36.18-19). Parecia que a promessa tinha sido quebrada por Deus.

Ao final do exílio, o primeiro ato de des­taque foi o decreto de Ciro convocando o povo de Judá para restaurar o templo do Senhor em Jerusalém (2Cr 36.23). A despeito das dificuldades, a obra foi concluída e, diante da tristeza de alguns por causa da qualidade inferior da construção, uma nova promessa foi feita: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.9).

Uma nova destruição do templo foi anunciada por Jesus e aconteceu por mão dos romanos, no ano 70 d.C. Assim, preci­samos saber se os propósitos de Deus para o templo de Jerusalém foram cumpridos e/ou como esses propósitos se realizam após a vinda de Jesus. 

V. A reunião do remanescente de Israel

Outra importante promessa do Antigo Testamento sobre Israel também foi pro­ferida por Ezequiel nos dias do exílio. Quando ocorreu o decreto de Ciro, já mencionado acima, os judeus tiveram autorização para retornar para a terra, mas muitos não o fizeram. Preferiram permanecer na condição favorável que haviam conseguido alcançar no império persa e, desde então, se espalharam para os mais diversos lugares.

O Senhor, porém, prometera buscar e congregar novamente os filhos de Israel em sua terra. Em Ezequiel 20.40-42, lemos:

“… no meu santo monte, no monte alto de Israel, diz o Senhor Deus, ali toda a casa de Israel me servirá, toda, naquela terra; ali me agradarei deles, ali requererei as vossas ofertas e as primícias das vos­sas dádivas, com todas as vossas coisas santas. Agradar-me-ei de vós como de aroma suave, quando eu vos tirar dentre os povos e vos congregar das terras em que andais espalhados; e serei santificado em vós perante as nações. Sabereis que eu sou o Senhor, quando eu vos der entrada na terra de Israel, na terra que, levantando a mão, jurei dar a vossos pais.”

Todo o Israel seria novamente reunido aos pés do Senhor, profecia que implica não somente o retorno físico à terra, mas, principalmente, o retorno espiritual à obediência ao Senhor e aos seus manda­mentos. Isso retoma as promessas feitas a Abraão quanto à descendência e à terra e as coloca no contexto da consumação dos séculos, como parte daquilo que de­vemos aguardar juntamente com o retorno de Cristo. Sobre o entendimento do que ensina a Escritura a respeito do destino final de Israel foi feita referência acima, a partir de Romanos 11.26. 

Conclusão

A aliança de Deus com Israel está marcada por numerosas e importantes promessas. Seu cumprimento e conti­nuidade são temas importantes quanto à natureza de Deus e de seus propósitos para com o seu povo. A vinda de Cristo e a pregação do evangelho tem impacto direto sobre o modo como devemos entender cada uma dessas promessas e, especialmente, sobre a compreensão do papel que cabe a Israel na continuidade da história da redenção. 

Aplicação

Que atenção você tem dado às promes­sas feitas a Israel no Antigo Testamento? Como elas dizem respeito também a nós gentios? Agradeça a Deus por sua fidelidade às suas promessas e firme a sua esperança unicamente no sacrifício de Jesus, que nos garante a vida eterna.

> Autor do Estudo: Dario de Araújo Cardoso
>> Estudo publicado originalmente na revista Palavra Viva – Jesus e Israel. Usado com permissão.

Fonte