Texto Básico: João 17.20-23
Leitura: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, 21 para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 22Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: 23eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.” João 17.20-23
Jesus procurou, em Seu ministério, revelar ao mundo o amor do Pai e Seus propósitos. O mundo conheceria este amor e propósito através dEle. O Pai e o Filho eram um! Por isto o Filho era a imagem perfeita do pai.
O nosso desafio é que o mundo conheça a Jesus através de nós, para isso é necessário ser um com o Senhor. O diabo quer de qualquer forma quebrar esta unidade, para que o mundo não conheça a Deus e os Seus propósitos.
O tema da unidade está tão presente no texto acima que podemos vê-lo expresso por três vezes:
“para que todos sejam um” (v. 21).
“para que eles sejam um” (v. 22).
“Que eles sejam levados à plena unidade” (v. 23).
Estas declarações expõem os princípios essenciais da unidade espiritual. Aqui estão revelados os pormenores da natureza da unidade da Igreja.
I. A unidade não é opcional
O objeto da oração de Jesus são pessoas específicas. Ele fala sobre “estes” (RA5), fazendo referencia aos discípulos. E fala também sobre “aqueles”, fazendo referencia a todos os cristãos das gerações futuras – os que ainda haviam de crer. Todavia, quando Jesus faz a afirmação “para que todos sejam um”, Ele junta “estes” e “aqueles” em um único processo histórico, ligando-os como um só corpo – a Igreja universal.
John Stott disse que “a oração de Jesus foi, antes e acima de tudo, para que houvesse uma continuidade histórica entre os apóstolos e a igreja pós-apostólica, para que a fé da igreja não viesse a mudar com o passar dos anos, mas permanecesse reconhecível do mesmo jeito, e que a igreja, em cada geração, pudesse merecer o epíteto de ‘apostólica’, em virtude de sua lealdade à mensagem e missão dos apóstolos”.
Ou seja: sentimento de pertencer e continuidade histórica são as duas principais marcas da unidade em João 17. É importante observar, também, que tanto “estes” quanto “aqueles” são pessoas que “receberam” a Palavra de Deus e conheceram quem é Jesus. São pessoas regeneradas, nasceram de novo. Portanto, é deste tipo de pessoas que Jesus espera a prática da unidade. E mais: Jesus afirma que sem a unidade com o Pai e o Filho, a unidade na Igreja não é possível. É neste ponto que encontramos o maior desafio para vivenciarmos a verdadeira unidade cristã. Jesus compara a unidade do Seu povo, a Igreja, com a unidade que Ele tem com o Pai: “… para que eles sejam um, assim como nós somos um”.
Isto significa que a unidade da qual Jesus está tratando em João 17 não se restringe à reciprocidade e comunhão uns com os outros. Nem tão pouco se trata de uma unidade estrutural ou organizacional e externa. Não significa também conformidade ou uniformidade – fazer todas as pessoas pensarem exatamente iguais. Não é uma questão de amizade ou fraternidade. Então, que tipo de unidade é esta? É a unidade de essência: “Esse é todo o mistério da Trindade. Há três pessoas e, contudo, unicamente um Deus. A mesma essência e, contudo, há distinções nas pessoas, mas o que faz dElas um só ser é a unidade de essência”.
A oração de Jesus por unidade do Seu povo demonstra que a unidade não é automática, mas algo que deve ser buscado e desenvolvido com empenho e esforço. Isto implica em manter a unidade na diversidade, especialmente nas divergências de opinião. Neste sentido dois pontos devem ser levados em consideração:
1) Buscar unidade fraterna e aperfeiçoamento espiritual é responsabilidade de todo cristão;
2) Não se pode, em nome da unidade, abrir mão dos princípios absolutos e inegociáveis da Palavra de Deus;
Quando Jesus declara: “Dei-lhes a glória que me deste”, ele está falando do caráter de Deus. O ponto crucial aqui é entender a unidade como uma realidade essencialmente espiritual, relacionada ao caráter de Deus e que deve ser vivida em torno da verdade de Deus! Agora, se em nossas relações estamos em desunião, produzindo fragmentação e irreconciliação, pela lógica bíblica, estamos “destituídos” desta glória que Jesus fala. Se nossas posturas cotidianas revelarem egoísmos e intransigência, estamos “longe” de ser aquilo que Jesus planejou para Sua a Igreja.
J.C.Ryle disse que nenhum de nós deve pensar com leviandade, como alguns, às vezes, o fazem, a respeito de divisões e imaginar que a atitude de sectarismo, de partidarismo e de criar novas denominações é algo insignificante. Podemos estar certos de que estas coisas apenas servem de ajuda ao diabo e prejudicam a causa de Cristo. Ryle propõe ainda que antes de nos entregarmos à divisão, devemos suportar, ceder e agüentar muito.
Na prática, a unidade é uma relação familiar. Numa família, os membros até podem discordar de algum ponto, porém jamais irão se livrar da relação de sangue, da essência que lhes une. Observe a partir disto a simplicidade da relação.
Não vamos mais desperdiçar tempo e energia contendendo uns com os outros. Gastamos no tempo contendendo contra o pecado e o mal. Evitemos que os não-crentes digam: “resolvam, primeiro, as vossas divergências internas, para que eu creia no vosso Cristo”.
II. O testemunho da unidade
O motivo básico da oração de Jesus por unidade está expresso na frase “para que o mundo creia”. O ponto central aqui é o testemunho cristão. O mundo precisa “enxergar” Jesus através da nossa unidade. Podemos pregar o amor de Deus ao mundo, mas se o mundo não nos vê praticando este amor, de nada adiantaria. O melhor exemplo da unidade, como testemunho evangelizador, é a igreja primitiva: os cristãos da época uniram-se uns aos outros na frequência regular às reuniões de ensino dos apóstolos e na prática da comunhão e oração. E, em todos eles, havia um profundo respeito por Deus. Então, a cidade inteira tinha simpatia por eles, e cada dia o próprio Senhor acrescentava à Igreja todos os que estavam sendo salvos.
Está absolutamente claro, que foi a dedicação dos cristãos na Palavra, comunhão e oração, que atraiu as pessoas a Jesus. Essa unidade era analisável e mensurável a partir dos encontros constantes e do compartilhar seus bens, repartindo com os que tinham necessidade dentro da comunidade. Eles se reuniam em grupos pequenos nas casas para tempo de comunhão e participação das refeições com grande alegria e gratidão a Deus. Esta é a maneira da Igreja revelar a glória de Deus!
“A unidade pela qual ele (Jesus) ora é uma unidade de amor; na verdade trata-se da participação deles (discípulos) na unidade de amor que existe eternamente entre o Pai e o Filho… A sua unidade em amor manifesta daria confirmação pública do relacionamento deles com Jesus e deste com o Pai. O mundo que até então não lhe tinha dado crédito, aprenderá com o testemunho do amor dos discípulos que de fato, ele é o enviado de Deus”.
Portanto, a unidade que Jesus ensina em João 17, não é estrutural, mística ou abstrata, mas orgânica e visível na história. Isto pode ser medido através de ações de reciprocidade e vivência objetiva dos princípios divinos. A unidade é tão realista e perceptível que o mundo pode vê-la a fim de crer. Será que, como Igreja, estamos expressando uma unidade espiritual sociologicamente analisável e compreensível?
Quando não vivemos a unidade indicada por Jesus em João 17, negamos a verdade que afirmamos crer; o poder da obra redentora de Jesus, a natureza da comunhão do Pai, Filho e Espírito Santo, o amor de Deus pelos homens, a prioridade da missão evangelizadora da Igreja e o caráter glorioso de Deus.
A conclusão é que nada é mais relevante no processo evangelizador do mundo do que o testemunho da unidade do povo de Deus.
Aplicação Pessoal
– Em sua perspectiva, o que Jesus diria da unidade da sua igreja local?
– Quais são as características de uma igreja onde “todos são um”?
– Em suas ações pessoais e ministeriais o que você está fazendo para que todos “sejam levados à plena unidade”?
Autor do Estudo: Josadak Lima
Retirado de UNIDADE – a missão conciliadora da igreja. Publicado com permissão.