É certo dizer que Cristo morreu por todas as pessoas do mundo?

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A obra de expiação

Por que nem todas as pessoas são salvas?

Texto básico: Isaías 52.13–53.12

Leitura diária
D Rm 5.1-11 Paz com Deus
S Rm 8.31-39 A segurança dos eleitos de Deus
T At 13.44-52 Destinados para a vida eterna
Q Rm 2.1-11 A bondade de Deus e o Arrependimento
Q Ef 1.3-14 Escolhidos e predestinados
S Ef 2.1-10 A fé é dom de Deus
S Cl 1.13-23 Paz pelo sangue da cruz

Introdução

No estudo anterior, vimos o caráter substitutivo da expiação realizada por Jesus e a importância de sua obediência no cumprimento da lei para que essa expiação fosse possível. Agora veremos o propósito e o alcance da expiação realizada por Jesus. Você sabia que a obra expiatória de Cristo garante o perdão de pecados para todos aqueles pelos quais Cristo morreu? Mas afinal de contas, quem são essas pessoas pelas quais ele morreu? É certo dizer que Cristo morreu por todas as pessoas do mundo? Se for assim, por que nem todas as pessoas são salvas? Isso é o que veremos na lição de hoje.

I. O propósito da expiação

Vimos, na lição passada, o que é a obra expiatória de Cristo. Hoje veremos qual foi o propósito dessa obra. Podemos dizer que a expiação tem três objetivos principais: afetar: (1) a relação de Deus com o pecador; (2) a condição de Cristo como o Autor da salvação; e (3) o estado e a condição do pecador.

1. O efeito da expiação com referência a Deus.

É importante observar, antes de tudo, que a expiação não provocou nenhuma mudança no ser de Deus, que é imutável. A única mudança que foi produzida foi na relação de Deus com aqueles pelos quais Cristo morreu, isto é, com aquelas pessoas que se tornaram objeto de seu amor expiatório. Ele se reconciliou com aqueles que eram objetos de sua ira. A Escritura ensina isso em vários textos: “… Se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10); “… Aprouve a Deus que, nele [Cristo], residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1.19-20; veja também Ef 2.3, 14-16; 2Co 5.18-19). A expiação não é a causa do amor de Deus. Ele não começou a nos amar porque Cristo morreu em nosso lugar. Seu amor é eterno e Cristo morreu em nosso lugar por causa do amor de Deus (Jo 3.16).

2. O efeito da expiação com respeito a Cristo.

Cristo, tendo cumprido totalmente sua obra expiatória, recebeu a recompensa devida ao Mediador da aliança. Essa recompensa consiste de:

a. Tudo o que se refere à sua glorificação. Ao antever a conclusão de sua obra expiatória, Jesus ora ao Pai: “… Glorifica-me, ó Pai, con­tigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5).

b. A plenitude dos dons e bênçãos que concede ao seu povo. O Salmo 68.18, falando sobre a obra de Cristo, diz: “… Subiste às al­turas, levaste cativo o cativeiro.” Paulo aplica esta passagem a Cristo em Efésios 4.8.

c. O dom do Espírito Santo para a formação de seu povo. Isso é evidenciado pelas palavras de Pedro no dia de Pentecostes: “… Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis” (At 2.33).

d. Os confins da terra como sua possessão e o mundo para seu domínio. Esta foi uma das promessas feitas a ele: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8). Ao contrário do que se costuma pensar, esta promessa não é feita aos cristãos, mas a Cristo. O contexto imediato deste versículo é: “Tu és meu Filho, e, hoje, te gerei. Pede-me…” (Sl 2.7-8). Esta promessa foi cumprida depois que Cristo realizou sua obra expiatória (Hb 2.8-9).

3. O efeito da expiação sobre o pecador.

a. A expiação garante a salvação de todo aquele que crê em Cristo como seu Salvador. A expiação não apenas tornou a salvação possível, mas a garantiu. A expiação garante que todos aqueles que creem em Cristo não apenas podem ser salvos, mas realmente são salvos.

b. A expiação garante não apenas a salvação do crente, mas também todas as bênçãos decorrentes da salvação. A expiação assegura ao crente: (1) perdão de pecados, adoção como filhos e herança eterna; (2) união mística e orgânica com Cristo, por meio da regeneração e da santificação – isso inclui a mortificação do velho homem e o revestimento do novo homem, criado em Cristo Jesus –; (3) a bem-aventurança final, em comunhão perfeita e eterna com Deus, na glorificação da igreja e no desfrute da vida eterna.

II. O alcance da expiação

Antes de passarmos ao estudo do ensino bíblico sobre o alcance da expiação, é preciso chamar a atenção para aquilo que não é o ob­jeto de estudo desta divisão da lição. Quando estudamos o alcance da expiação, a questão que vamos tratar não é: (a) se a satisfação realizada por Cristo foi suficiente para todos os seres humanos, pois não há dúvida de que o sacrifício de Cristo é suficiente para salvar todos os seres humanos; e (b) se a salvação re­almente é aplicada a todos os seres humanos, pois a Escritura e a experiência humana nos dizem claramente que há muitas pessoas que morrem e não são salvas. A questão de que vamos tratar aqui diz respeito à finalidade da expiação. Quando Cristo fez expiação pelos nossos pecados, ele tinha o objetivo de salvar todos os seres humanos? Esta é a questão.

Examinando a Escritura, nós, reformados, entendemos que Cristo morreu com o propósito de salvar os eleitos e somente os eleitos. Isso significa que ele morreu com o propósito de salvar somente aqueles a quem ele, de fato, aplica a salvação. Podemos apresentar as seguintes razões para fundamentar aquela que é chamada “doutrina da expiação limitada”:

a. Como princípio geral, devemos nos lembrar que os desígnios de Deus são seguramente realizados e não podem ser frustrados pela ação do homem. Deus faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade (Ef 1.11). Isso se aplica a tudo o que Deus faz, inclusive ao seu propósito de salvar os pecadores por meio da morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Se sua intenção fosse salvar todos os homens, esse propósito não poderia ser frustrado nem mesmo pela incredulidade humana, o que a Bíblia ensina claramente que não é verdade. Se apenas uma parte dos pecadores é salva, podemos concluir seguramente que o propósito de Deus era salvar somente essa parte.

b. A Escritura repetidamente se refere àque­les pelos quais Cristo entregou sua vida de um modo que indica que eles formam um grupo escolhido por Deus para ser sua propriedade exclusiva. Por exemplo, eles são chamados de “minhas ovelhas” (Jo 10.26); “seu povo” (Mt 1.21); “eleitos” (Rm 8.32-35); “escolhidos” (Ef 1.4); “predestinados” (Ef 1.5) e “destina­dos para a vida eterna” (At 13.48).

c. A obra sacrificial de Cristo, na qual ele se ofereceu como sacrifício para satisfazer a justiça de Deus, e sua obra interceptória são aspectos complementares de sua obra expiatória, isto é, são dois lados da mesma moeda. Portanto, o alcance de uma não pode ser diferente do alcance da outra. Como vimos na lição passada, a obra intercessória de Cristo é realizada em favor de seu povo, não em favor de todos os seres humanos (Jo 17.9).

d. A obra expiatória de Cristo não consiste apenas em tornar a salvação possível ao pecador, mas em assegurá-la àqueles que creem nele. Há quem diga que a obra expiatória de Cristo tornou a salvação possível a todas as pessoas, mas só se manifesta eficazmente a um número limitado de pessoas. Não é esse o ensino bíblico. Jesus diz que o Filho do Homem veio salvar o perdido (Mt 18.11), não apenas tornar a salvação possível ao perdido.

e. Cristo, com sua morte, adquiriu e garantiu todos os benefícios necessários para que o pecador se aproprie da salvação e seja nela preservado. A salvação não é condicional, isto é, uma obra realizada por Cristo, mas que depende do cumprimento de uma condição (a fé) para que seja eficazmente aplicada ao pecador. Na verdade, com sua morte expiatória, Cristo adquiriu a fé, o arrependimento e todos os demais elementos da obra do Espírito Santo em favor de seu povo. O apóstolo Paulo ensina que a bondade de Deus é que nos conduz ao arrependimento (Rm 2.4) e que a fé não vem de nós mesmos, mas é um dom de Deus (Ef 2.8).

III. Objeções à doutrina da expiação limitada

A doutrina bíblica da expiação limitada é mal compreendida por muitos cristãos, que levantam contra ela várias objeções. As principais são as seguintes:

a. Há passagens que ensinam que Cristo morreu pelo mundo (Jo 1.29; 3.16; 6.33,51; Rm 11.12,15; 2Co 5.19; 1Jo 2.2). A objeção que se baseia nestas passagens parte do pressuposto de que a palavra “mundo”, usada nelas, significa “todas as pessoas do mundo”. No entanto, a palavra “mundo”, na Escritura, tem vários significados. Uma passada de olhos em textos como João 1.10; Atos 11.28; 19.27; 24.5 é suficiente para demonstrar isso. Mesmo quando esta palavra se refere aos seres humanos, nem sempre ela inclui todas as pessoas do mundo (Jo 7.4; 12.19; 18.20). O que vemos nas passagens usadas como base para a objeção é que, nelas, a palavra “mundo” é empregada para indicar que, na nova aliança, o evangelho é pregado não apenas a Israel (povo de Deus do Antigo Testamento), mas a todas as nações.

b. Há passagens que dizem que Cristo morreu por todos os homens (Rm 5.18; 1Co 15.22; 2Co 5.14; 1Tm 2.4, 6; Tt 2.11; Hb 2.9; 2Pe 3.9). No entanto, o contexto de cada uma destas passagens mostra que a palavra “todos”, em cada uma delas, refere-se a todos os que estão em Cristo. Em cada uma destas passagens, se “todos” ou “todos os homens” forem entendidos como incluindo todos os seres humanos, ficamos com um sério problema, pois seremos levados a concluir que todos os seres humanos são salvos, o que não é verdade.

Conclusão

A obra expiatória de Cristo foi realizada de acordo com os desígnios de Deus, que não podem ser mudados nem impedidos pelo ser humano. Por isso, a morte de Jesus teve um propósito bem definido que não pode ser frustrado: salvar todos aqueles por quem Cristo morreu, aqueles que, no devido tempo, receberão do próprio Cristo a fé e o arrependimento e terão um encontro salvador com ele. É por causa desta doutrina maravilhosa que Paulo pode dizer: “Quem nos separará do amor de Cristo?… [nada] poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35,38-39).

Aplicação

Como a doutrina bíblica da expiação limitada pode ajudá-lo a ter uma fé firme e constante no Senhor? Saber que o Senhor está ao seu lado até mesmo nos momentos mais difíceis de sua vida, quando sua fé está mais fragilizada, zelando para que o propósito divino seja cumprido em você, tem algum efeito prático em sua vida cristã? Qual?


> Autor do Estudo: Vagner Barbosa

>> Estudo publicado originalmente na revista Palavra Viva – Da criação à volta de Cristo, da Editora Cultura Cristã. Usado com permissão.

Fonte