A fé: sua natureza e seus heróis – Hebreus 11.1-40

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Você entenderá o que é a fé, e conhecerá uma grande nuvem de testemunhas do passado cuja fé serve de exemplo aos cristãos de hoje.

Versículo-Chave: Hebreus 11.1
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.”

Texto Devocional: Marcos 11.20-26

Leia a Bíblia Diariamente
S – Hb 11.1-7
T – Hb 11.8-22
Q – Hb 11.23-29
Q – Hb 11.30-40
S – At 7.1-22
S – At 7.23-43
D – At 7.44-60

Duas razões para o autor ter dedicado 40 versículos à fé no capítulo 11 de sua epístola podem ser estas: (1) contrastar a fé com a ênfase que o Antigo Testamento dava à obediência à lei; e (2) mostrar o que homens e mulheres de Deus (“a grande nuvem de testemunhas”) fizeram por meio da fé, no passado. Assim, ele encoraja seus leitores a permanecerem firmes, lembrando que os cristãos têm promessas superiores (Hb 11.39-40).

I. A natureza da fé (Hb 11.1-3)

  1. Que é a fé (Hb 11.1)

A construção gramatical deste versículo no texto original traz a seguinte mensagem: “Fé significa que estamos dando substância às coisas esperadas, e provamos estas ainda que não sejam vistas”.

Leia o mesmo versículo em quatro outras versões.

a. J.B. Phillips

“Ora, a fé significa que temos confiança total nas coisas que esperamos, significa ter certeza de coisas que não podemos ver.”

b. NVI

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.”

c. Linguagem de Hoje

“A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não vemos.”

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d. Bíblia Viva

“Que é a fé? É a convicção segura de que alguma coisa que nós queremos vai acontecer. É a certeza de que o que nós esperamos está nos aguardando, ainda que não o possamos ver adiante de nós.”

Fé não é fechar os olhos e dizer: “Vai dar certo”, ou, “tem que acontecer”. Não é pensamento positivo, nem confissão positiva. O alicerce da fé são as promessas da palavra de Deus. A fé, na Bíblia, está sempre ligada à confiança que o homem deposita na palavra do Deus vivo, fiel e verdadeiro (Nm 23.19; Tt 1.2).

  1. O testemunho da fé (Hb 11.2)

Ao escrever que os “antigos obtiveram bom testemunho”, o autor coloca o verbo “obter” no tempo e modo de forma a indicar que foi Deus quem deu o testemunho acerca deles. Foram homens e mulheres antigos que receberam recomendação divina por sua fé.

  1. Fé e criação (Hb 11.3)

Aqui temos um importantíssimo testemunho bíblico acerca de como se deu o processo da criação do universo.

a. Entendemos

A palavra expressa uma percepção mental, uma faculdade de pensar, inteligência.

b. Foi o universo formado pela palavra de Deus

Exatamente como o Gênesis registra: “Disse Deus” (Gn 1.3,6,9,14, 20,24,26). Embora os cristãos sejam criticados e até ridicularizados, são os que melhor entendem (“pela fé entendemos”) o processo da criação do universo. Na Bíblia, a palavra de Deus é Deus em ação.

Donald Guthrie escreveu: “Ao contemplar a origem do mundo observável da natureza, o escritor reconhece a necessidade da fé. Se a explicação fosse restrita a fenômenos que podem ser testados, nenhuma fé seria necessária. Mas as palavras pela fé entendemosdemonstram que o conhecimento não é independente da fé” (Hebreus, Introdução e Comentário, p.213).

Leia Hebreus 11.3 na versão de J.B. Philips:

II. A fé dos antediluvianos (Hb 11.4-7)

  1. Abel (Hb 11.4)

Não é dada nenhuma indicação da razão por que seu sacrifício se revelou mais aceitável. O único indício é que foi dito a Caim que, se procedesse bem, ele também seria aceito (Gn 4.7), o que sugere que tinha muito a ver com a atitude do coração e o estilo de vida de Abel. Em outras palavras, o problema não estava no conteúdo da oferta, mas no coração do ofertante.

  1. Enoque (Hb 11.5)

Duas coisas sobre Enoque: (1) foi liberto da experiência da morte devido à sua fé (“foi trasladado” – o verbo significa transpor, transferir, remover); (2) obteve testemunho de haver agradado a Deus antes de ser trasladado.

  1. A indispensabilidade da fé (Hb 11.6)

Aprendemos também duas coisas acerca do relacionamento entre o homem e Deus. (1) Quem busca a Deus deve crer na Sua existência; (2) quem busca a Deus deve saber que Ele é um Deus galardoador (recompensador, premiador).

  1. Noé (Hb 11.7)

Nenhuma outra coisa poderia ter levado Noé a fazer o que fez senão a fé. Ele teve fé suficiente para salvar a si e a sua casa. Observe que a palavra “fé” ocorre duas vezes nesse versículo. William Newell comentou: “Quando Noé entrou na arca, havia a mesma convicção do fato da vinda do dilúvio que ele tinha durante os anos de construção da arca. Deus tinha falado! Aquilo era tudo o que estivera antes na sua mente. Ele nunca olhou para o céu. Fé é a convicção de coisas, mesmo quando elas não são vistas!”

III. A fé dos patriarcas (Hb 11.8-19)

  1. A fé de Abraão (Hb 11.8-19)

Não é por acaso que os comentários sobre a fé de Abraão ocupam mais espaço do que o dedicado a qualquer outro personagem do AT neste capítulo. Ele era, por excelência, um homem de fé. Então, era de se esperar que “o pai de todos os que creem” (Rm 4.11), ou o “pai da fé” como alguns dizem, recebesse grande espaço nesta galeria de heróis da fé. Todavia, o espaço de uma lição não é ideal para que façamos os comentários que o texto merece. O esboço a seguir nos ajuda a acompanhar os passos desse pai de muitas nações (Rm 4.17-18) e saber o que ele realizou pela fé.

  1. Abraão obedeceu (v.8).
  2. Abraão peregrinou (v.9).
  3. Abraão aguardou (v.10).
  4. Abraão gerou (v.11).
  5. Abraão prosperou e alcançou uma pátria superior (v.12-16).
  6. Abraão ofereceu (v.17-19).

2. A fé de Isaque, de Jacó e de José (Hb 11.20-22)

 a. A fé de Isaque (Hb 11.20)

Sobre a fé de Isaque, o único fato que o escritor menciona foi a bênção de Jacó e Esaú. O nome deles se dá nesta ordem e não na ordem do nascimento, talvez porque essa foi a ordem na qual receberam a bênção de seu pai. Nada se diz acerca do engano a que foi submetido Isaque. A consequência desse engano foi a bênção que havia sido destinada a Esaú (o primogênito) ter sido derramada sobre Jacó. O fato é que Deus inverteu a ordem natural, e o herdeiro da promessa ficou sendo o segundo entre os gêmeos, ao invés do primeiro.

 b. A fé de Jacó (Hb 11.21)

“A bênção que passava do pai para o filho era de grande relevância para a mente judaica. O escritor bíblico vê isto como um ato de fé. As bênçãos de Jacó de despedida sobre cada um dos filhos de José são mencionadas como evidência específica da sua fé em Gênesis 48.11-22” (Guthrie, p.222).

c. A fé de José (Hb 11.22)

A vida de José mereceu ser citada como um belo exemplo de fé nesta galeria. O autor da carta escolheu um episódio que pertence ao final da vida de José. Está registrado em Gênesis 50.24-26. José havia passado a totalidade de sua larga vida, a não ser os primeiros dezessete anos, no Egito, mas aquele não era o seu lugar. O cumprimento do seu pedido está em Êxodo 13.19 e Josué 24.32.

Aplicação

Na vida de Isaque, de Jacó e de José encontramos atos preciosos de fé. Eles provaram, mais uma vez, que “a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem”.

IV. A fé de Moisés (Hb 11.23-29)

Moisés também recebe um tratamento extenso, porque tanto ele quanto o Êxodo têm muita importância na história do povo de Deus, no AT. Sua vida inteira fora marcada pela consciência da presença e do poder de Deus, além da crescente obediência à palavra do Senhor. Algumas lendas judaicas creditavam a Moisés um vasto conhecimento de aritmética, geometria, poesia, música, filosofia, astronomia e outros ramos do saber. Mas a Escritura afirma “Que nunca mais se levantou em Israel outro profeta como Moisés, (Dt 34.10 cf. Êx 33.11).

O autor da carta destaca dois aspectos da fé de Moisés: pessoal e nacional. O esboço a seguir nos ajudará a cobrir os principais destaques do parágrafo a ser estudado.

  1. A autonegação de Moisés (v.24).
  2. A solidariedade e a santificação de Moisés (v.25).
  3. O sofrimento voluntário de Moisés (v.26).
  4. A fé durante o Êxodo (v.27).
  5. A fé na celebração da Páscoa (v.28).
  6. A fé na travessia do mar Vermelho (v.29).

V. Mais exemplos de fé (Hb 11.30-38)

Em Hebreus 11.32, o autor pergunta: “E o que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário…” Estamos com o mesmo problema dele, falta de tempo! Mesmo assim, novamente podemos esboçar o parágrafo, para melhor percebermos a ideia central:

  1. A fé na queda das muralhas de Jericó (v.30).
  2. A fé de Raabe (v.31).
  3. A fé no período dos juízes (v.32).
  4. A fé e realizações (v.33).
  5. A fé, libertações, maravilhas e ressurreições (v.33-35).
  6. A fé e sofrimentos (v.35-37).
  7. A fé e solidão (v.38).

VI. A fé em Cristo é superior (Hb 11.39-40)

Ainda que tantas pessoas tenham feito e recebido coisas extraordinárias por meio da fé, e, por isso, “obtiveram bom testemunho por sua fé”, contudo elas não receberam “a concretização da promessa” (Hb 11. 39). O que o autor quer dizer é que nem um deles viu o cumprimento das profecias referentes à chegada do Messias.

Em Hebreus 11.40, temos mais um texto que comprova a superioridade de Cristo: “por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito” Ele está se referindo à fé cristã. Por isso que Jesus afirmou sobre João Batista: “Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Lc 7.28). Há dois fatos importantes que podemos aprender nesse versículo. Primeiro: ninguém é maior que João Batista, porque ele foi o único profeta da antiga aliança que anunciou o Messias e viu o cumprimento dessa profecia. João Batista e Jesus se encontraram e dialogaram (Mt 3.13‑15). Segundo: o menor no reino dos céus é maior do que João porque, a partir da chegada do Messias, as pessoas entram no reino dos céus crendo em Cristo, e Ele é maior do que todos. A fé em Cristo é superior.

Conclusão

Sobre os heróis da fé, Hebreus 11.38 conclui: “Homens dos quais o mundo não era digno”. Ele quer nos dizer que o mundo não era um lugar bom para esses homens de fé. A estatura espiritual deles fez com que fossem merecedores de uma cidade superior. A ideia é também que o mundo não oferecia hospitalidade compatível com o exemplo de fé dessas pessoas formidáveis. Essa tão grande nuvem de testemunhas (Hb 12.1) é um exemplo para nós. O Deus deles é o nosso Deus. Eles tiveram fé, por isso obtiveram bom testemunho. Então, oremos: “Senhor, aumenta-nos a fé. Amém”.

>> Autor do Estudo: Pr. José Humberto de Oliveira

>> Publicado originalmente pela Editora Cristã Evangélica, usado com permissão.

Fonte